terça-feira, 26 de junho de 2007

Onde nasceu as caricaturas?


O grotesco ou o caricato desenvolveu-se mais precocemente na palavra do povo português do que na imagem. Na época medieval, a crítica expressava-se, essencialmente, pela produção de poesia trovadoresca satírica que proliferava através das cantigas de escárnio e maldizer e pela figura do pregador satírico, o bobo. É ainda pela palavra representada que surge a obra do grande satírico português, o dramaturgo Gil Vicente.
Com o aparecimento da Inquisição, o espírito satírico nacional esvai-se, passando a estar associado à subversão da sociedade.
Só mais tarde, no século XVII se reúnem as condições para o humor renascer. A imprensa, desde logo, se mostrou como o seu mais fiel suporte, fazendo veicular a crítica satírica através de folhetos de cordel, papéis volantes, etc.. Os desenhos que surgem nesta época são adaptações de trabalhos estrangeiros que procuram criticar o sistema político nacional, uma vez que a arte da gravura erudita era uma arte sem raízes na tradição artística portuguesa.
O único exemplar de sátira erudita portuguesa da época foi criado pelo artista nacional Viena Lusitano. Os focos de arte popular continuam nos desenhos satíricos como expressão do sentimento de revolta contra o poder.
As influências liberais, as guerras napoleónicas, a violência política de um modo geral e a instabilidade do pensamento desencadearam uma série de reacções na imprensa da época. É a partir do séc.XIX que a produção jornalística e a sátira flutuam ora ao sabor da liberdade de expressão ora ao sabor da intolerância do poder. Em meados de 1850 surgem os primeiros jornais com ilustrações satíricas: «O Patriota», «O Torniquete», «Demócrito», «Duende», etc...
Nesta época os artistas eram quase todos artesãos que ilustravam grosseiramente uma legenda ou um texto satírico. As caricaturas de teor político surgem como resposta à repressão, à ditadura, ao despotismo e na maior parte das vezes são anónimas ou assinadas por pseudónimos.
A alegoria é o primeiro recurso da expressão simbólica satírica, mais tarde recorre-se à metamorfose antropomórfica, isto é, à fusão das características do homem com animais e objectos.
Foi assim, no anonimato, que nasceu a caricatura nacional e os trabalhos daquele que é considerado por muitos o primeiro caricaturista português: Cecília.
Com o desenrolar do século, os ânimos violentos do desenho acabam por dar lugar a uma nova concepção filosófica de arte, mais preocupada com a evolução estética. Manuel Maria
Bordalo Pinheiro, Manuel Macedo e Nogueira da Silva, foram os principais responsáveis por este virar de página na vida da caricatura em Portugal.

O Samba

O samba, ao que tudo parece confirmar veio de "semba" que quer dizer "umbigada". Veio dos negros, também. Formava-se uma roda de batucada e dentro um dançarino fazia suas evoluções e requebros. Quando cansava ia até um membro da roda, dava-lhe uma umbigada e trocava com ele de lugar. O outro ia para o centro da roda fazer suas próprias evoluções e requebros.
O samba nasceu, portanto, como quase todos os gêneros musicais, de uma dança.
Como gênero musical o samba surgiu em 1917 com a música Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida. Era, como se poderá ouvir no acervo ilustrativo do gênero, um quase maxixe.
Houve muito polêmica em torno da autoria desse samba e ainda hoje, quando se conhece a Discografia Brasileira de 78 rpm encontra-se referências ao nome samba em várias outras gravações anteriores ao Pelo telefone. Ele ficou, entretanto, com a fama de ser o primeiro samba gravado.
Após o seu advento, Sinhô e Caninha arrancaram-no das batucadas do morro e das rodas de samba, e trouxeram-no para o delírio do carnaval. O dois fizeram os primeiros sambas para os três dias de folia. Ensaiando e tocando sambas na Festa da Penha, nos Clubes Carnavalescos e até nos ranchos, cordões e blocos carnavalescos, eles iam ensinando ao povo as letras, ingênuas e fáceis, as melodias vivas e sensuais de suas músicas.
Mais tarde, por volta de 1930, para permitir uma melhor evolução nos desfiles dos blocos carnavalescos, o samba sofreu uma modificação originada entre os sambistas do Estácio: Ismael Silva, Alcebiades Barcelos, Nilton Bastos e outros, adquirindo então sua forma mais conhecida hoje em dia.
O teatro de revistas, entretanto, para transmitir-lhe romantismo criou o samba-canção de andamento mais lento e que empresta à música uma beleza maior sendo esta, talvez, a mais bonita forma de samba. O primeiro samba-canção conhecido é Linda flor de Henrique Vogeler que recebeu letra de 4 revistógrafos pois a música foi composta para um espetáculo teatral e mereceu também 3 gravações de artistas do palco: Francisco Alves, Vicente Celestino e Aracy Cortes. A primeira versão recebeu letra de Freire Junior e foi gravado por Francisco Alves com o nome de Meiga flor (Disco Parlophon n. 12.909, lançado em janeiro de 1929). A segunda, com o nome definitivo de Linda flor, recebeu letra de Cândido Costa e foi gravada por Vicente Celestino (Disco Odeon n. 10.338, lançado em março de 1929). A terceira versão cantada por Aracy Cortes na peça Miss Brasil (20 de dezembro de 1928 - Teatro Recreio) de Luiz Peixoto e Marques Porto recebeu letra definitiva dos autores da peça e foi gravada por Aracy na Parlophon, disco 12.926, com o nome de Iaiá. O disco foi lançado também em março de 1929. No livro de Roberto Ruiz sobre a vida de Aracy Cortes esta história é contada em detalhes a partir da página 117.
Na matriz ilustrativa do samba-canção colocamos as três versões, com os respectivos nomes: Meiga flor, Linda flor e Iaiá. Depois colocamos a primeira gravação da música com o nome certo e a letra certa, na voz de Isaurinha Garcia. Esta última pareceu-nos a mais bonita de todas as interpretações.
Por volta de 1938, sugestionado pelo baterista Luciano Perrone, Radamés Gnattali introduziu uma modificação na maneira de tocar e orquestrar samba. Até então o ritmo do samba era marcado exclusivamente pelos instrumentos de percussão. Radamés criou um arranjo especial no qual os instrumentos de sopro também faziam a marcação do ritmo e a partir dai uma boa parte dos sambas passou a incluir esta marcação em suas orquestrações. Damos uma pequena demonstração deste tipo de orquestração nas músicas que aparecem na fita do samba-exaltação onde nos restringimos apenas aos sambas de exaltação ao Brasil. Há centenas de sambas exaltando o Rio de Janeiro, a Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Sul, Pernambuco e outras partes do Brasil.
Desde 1933, Gadé e Walfrido Silva vêm compondo sambas diferentes dos tradicionais e muitas vezes até com breques para incluir alguma fala no meio da música enquanto esta fica parada durante alguns compassos. É o caso, por exemplo, de Vem cavar a nota gravada por Francisco Alves em 1.4.33. Outros compositores seguiram-lhe os passos e criaram outros sambas-choros e sambas-de-breques focalizando situações engraçadas corriqueiras na vida real. Entre eles destacaram-se o Zé da Zilda, o Moreira da Silva, o Wilson Batista, o Geraldo Pereira e outros. Na matriz/acervo representativa do que chamamos samba-de-bossa você vai encontrar vários desses sambas defendidos pelos melhores sambistas, inclusive um muito engraçado gravado por Aracy de Almeida intitulado Paft... Paft.
Na década de 50 surgiu um outra maneira de executar o samba, com modificação na batida da bateria, iniciada por João Gilberto, no violão. Era a bossa-nova. A primeira vez que João Gilberto mostrou esta nova batida foi na música Chega de saudade acompanhando Elizete Cardoso, na gravação do LP Canção do amor demais com letra de Vinicius de Moraes e música de Antônio Carlos Jobim. Você vai ouvir esta gravação histórica e outras pérolas preciosas da bossa-nova na matriz representativa deste tipo de samba.
São formas diferentes de executar samba mas todas são samba.
O fixador do gênero na década de 20 foi, sem dúvida, Sinhô que chegou mesmo a receber o apelido de Rei do Samba. Na década de 30 os grandes nomes do samba foram: Noel Rosa, Ary Barroso, Nilton Bastos, Alcebiades Barcelos e outros. Na de 40 surgiram Haroldo Lobo, Antônio Nássara, Herivelto Martins, Roberto Martins, Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues e outros. Nos anos 50 surgiu o samba de fossa, com Antônio Maria, Ismael Neto, Dolores Duran, Maysa, Fernando Lobo e outros. Da metade dos 50 para frente, começa a bossa-nova com destaque para Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra, Menescal, Boscolli e outros.
No campo do samba-enredo, exclusivo das Escolas de Samba, destacaram-se Cartola, Carlos Cachaça, Silas de Oliveira, Paulo da Portela, Candeia, Mano Décio da Viola e outros. Não ilustramos este tipo de samba porque já contamos a História das Escolas de Samba em nosso Collector´s Notícias onde aparecem todas as músicas importantes do samba-enredo. Também na coleção História Musical do Carnaval, com as músicas de todos os carnavais, ano a ano, incluímos os sambas-enredo de maior popularidade. Se você tiver interesse, a Collector´s tem estas coleções.
Nas matrizes que apresentamos nesta coleção há exemplos de tango brasileiro, maxixe e samba nas suas várias modalidades.
Para ilustrar o samba fomos buscar na experiência e conhecimento de vários estudiosos da música popular brasileira a ajuda necessária para escolher os melhores sambas produzidos no Brasil em todos os tempos. Encontramos um disco editado pela Empresa Discos Marcos Pereira em 1975 e produzido por Sérgio Cabral, chamado Os melhores sambas de todos os tempos. Na capa do disco Sérgio declara que ouviu a opinião dos mais notáveis estudiosos da musica brasileira da época, levando em conta, inclusive, a opinião de dois dos maiores conhecedores da nossa música popular que haviam morrido antes da confecção do disco mas que, em reportagem publicada no Jornal do Brasil, já haviam manifestado a sua opinião sobre o assunto: Sérgio Porto e Edson Carneiro. Por nossa conta, fomos buscar a opinião de um elemento da atualidade, também profundo conhecedor do assunto, chamado Jairo Severiano - um dos autores da Discografia Brasileira em discos de 78 rpm, do livro Yes nós temos Braguinha e o livro O tempo e a música - 85 anos de canções brasileiras - 1901-1985, escrito em co-autoria com o também pesquisador paulista Zuza Homem de Mello e finalmente a opinião de Ary Vasconcelos o mais conhecido pesquisador e escritor sobre música popular no Brasil. É autor de Panorama da Música Popular Brasileira (2 volumes), Raizes da Música Popular Brasileira, Panorama da Música Popular Brasileira na Belle Epoque, A Nova Música da República Velha e Carinhoso (História e Inventário do Choro). Eis o resultado da enquete:
ARLEY PEREIRA - Em 1975 pertencente ao Diário da Noite e TV-Tupi de São Paulo : Sim - Quando o samba acabou - Coisas do mundo, minha nega - Quem te viu e quem te vê - A flor e o espinho - Louco - Heróis da liberdade - A Bahia te espera - Praça Onze - Divina dama - Antonico - Cântico à natureza.
ALBINO PINHEIRO - Na época, membro do Conselho de Música Popular do Museu da Imagem e do Som e comandante-em-chefe da famosa Banda de Ipanema: Agora é cinza - Implorar - Seca do nordeste - Divina dama - Se acaso você chegasse -Último desejo - Se você jurar - A flor e o espinho - O orvalho vem caindo - Ai que saudades da Amélia.
JOSÉ RAMOS TINHORÃO - Na época, crítico do Jornal do Brasil e autor de vários livros sobre música popular: Jura - Ai Ioiô - Se você jurar - Até amanhã - Agora é cinza - Ai que saudades da Amélia - Implorar - Não tenho lágrimas - Sementes de amor - Juízo final.
LÚCIO RANGEL - pesquisador e autor de livros e artigos sobre música brasileira: Cansei - Ai Ioiô - Novo amor - Se você jurar - Nosso romance - Faceira - Nuvem que passou - A tua vida é um segredo - Divina dama - Mulher de malandro.
RICARDO CRAVO ALBIN - ex-diretor do Museu da Imagem e do Som e também pesquisador de música popular brasileira: Agora é cinza - Se você jurar - A razão dá-se a quem tem - Dama do cabaré - Camisa amarela - Oh! Seu Oscar - Praça Onze - Heróis da liberdade - A flor e o espinho - Pedro pedreiro - Foi um rio que passou - Samba do perdão.
SÉRGIO CABRAL - escritor e pesquisador de música popular brasileira: A fonte secou - A felicidade - Jura - Se você jurar - Não me diga adeus - Notícia - Ai que saudades da Amélia - A voz do morro - Foi um rio que passou - Falsa baiana.
TARIK DE SOUZA - Já naquela época critico do Jornal do Brasil, Veja e Opinião: Falsa baiana - A flor e o espinho - O sol nascerá - Sei lá Mangueira - Ai que saudades da Amélia - Se você jurar - Conversa de botequim - Mas, que nada - Camisa listada - Se acaso você chegasse - Adeus batucada - Apesar de você.
JAIRO SEVERIANO - pesquisador, escritor e um dos autores da Discografia Brasileira em discos de 78 rpm: Morena boca de ouro - Se você jurar - Agora é cinza - Atire a primeira pedra - É com esse que eu vou - Ultimo desejo - Falsa baiana - Feitiço da Vila - Louco (Ela era o seu mundo) - Ai que saudades da Amélia.
ARY VASCONCELOS - jornalista, pesquisador e autor de vários livros sobre Música Popular Brasileira: Carinhoso - Professora - Feitiço da Vila - Nervos de aço - Brasil pandeiro - Se você jurar - Último desejo - Serra da Boa Esperança - Meu romance - Meu pranto ninguém vê.
Do conjunto destas opiniões surgiu a relação de "Os melhores sambas de todos os tempos aqui" apresentados. Foram acrescentados, por nossa conta, alguns sambas que mesmo não figurando entre os melhores não poderiam ficar de fora pela sua importância no contexto: Pelo telefone (o primeiro samba gravado), Quem são eles (o primeiro samba de Sinhô, gravado), Já te digo (resposta de Pixinguinha ao samba de Sinhô. Destaque para a flauta sensacional de Pixinguinha), Papagaio louro (segundo sucesso de Sinhô e primeira gravação de Francisco Alves), Quem vem atrás fecha a porta ou Me leva, me leva Seu Rafael e Essa nêga qué me dá (os primeiros sucessos de Caninha - José Luis de Moraes). Estes foram os primeiros sambas de grande sucesso no Brasil, aqui apresentados em suas gravações originais.
Após estes sambas antológicos, iniciamos à seqüência votada começando pelos que foram citados maior número de vezes, em ordem decrescente, até chegarmos aos que foram citados apenas uma vez, mas nem por isso menos importantes. Chamamos a atenção dos leitores para o fato de que Se você jurar é a única música apontada por todos, menos o Arley Pereira, como sendo um dos melhores sambas de todos os tempos. Destacamos, em negrito, na relação de cada um, o nome do samba, para que todos possam conferir.
E aqui vai um lembrete muito especial para os pesquisadores e críticos de música popular brasileira que têm a mania de veicular a informação de que Francisco Alves, como compositor, era apenas um mero comprador de sambas alheios, acusação esta lançada pelo cronista Vagalume no seu famoso livro "Na roda do samba", mas que ele não comprovou com nenhum nome de samba comprado por Francisco Alves:
O samba mais citado pelos entendidos como um dos melhores - Se você jurar - é exclusivamente de Francisco Alves e Nilton Bastos. O compositor Ismael Silva entrou nesta parceria porque fazia parte do acordo entre os três. Já tivemos oportunidade de ressaltar esse fato em nosso Collector´s Notícias n° 36 de Maio/Junho de 1995, quando falamos do compositor Francisco Alves. Não tínhamos visto ainda esta seleção organizada por Sérgio Cabral. Quem ler a primeira auto-biografia do cantor - Minha vida... minha vida - publicada no final da década de 30 e reeditada, revista e ampliada, no início da década de 40 e que poderá ser encontrada, na íntegra, no primeiro volume da série "O Único Rei da Voz", editada por nós, vai encontrar lá um tópico sob o título - Para fazer meu samba - onde ele conta a história do Se você jurar. O estribilho é do Nilton Bastos e a segunda parte é só do Francisco Alves - letra e música. E tudo com o testemunho de Mário Reis. O compositor Ismael Silva só sentiu coragem de assumir a paternidade da música depois que Francisco Alves morreu. Na época do livro e enquanto o cantor foi vivo, Ismael não abriu a boca. Em pesquisa, é sempre bom não confundir depoimento com documento.
Uma curiosidade: os cantores que mais indicações tiveram foram Francisco Alves com 11 e Mário Reis com 9. E entre os compositores Noel Rosa ganha disparado com 9 citações.
Na seleção resultante da opinião desses "cobras" alguns sambas foram sucessos retumbantes outros nem tanto mas sua beleza melódica ou sua temática tornaram-nos inesquecíveis e indispensáveis numa antologia como esta. O leitor observará, por certo, que a grande maioria é samba de carnaval.
Não conseguimos encontrar nenhuma gravação do samba Secas do nordeste da Escola de Samba Tupi de Brás de Pina, para o carnaval de 1961 indicado por Albino Pinheiro e por isso deixamos de incluí-la em nossa coletânea. O samba Sementes de amor, de autoria de Angenor de Oliveira e Carlos Cachaça, citado pelo pesquisador José Ramos Tinhorão deve ser o Não quero mais amar a ninguém, salvo melhor juizo. Colocamos este no lugar. Se estivermos enganados, que nos perdoe o Tinhorão e os clientes. Esta música começa a segunda parte dizendo: Semente de amor sei que sou desde nascença. Deve ser este. O samba Último desejo está reproduzido na matriz do samba-canção. O Carinhoso, citado por Ary Vasconcelos já foi catalogado nesta coleção sobre História da Música Brasileira quando falamos de choro cantado e Brasil pandeiro está sendo catalogado na matriz dos sambas-exaltação.
Na relação de sambas estão incluídas as nossas escolhas que foram acrescentadas para completar as 4 matrizes. São aquelas que não estão na relação dos demais e que julgamos merecedoras de figurar nesta coletânea sem prejudicar o brilho dos indicados pelo seleto júri de pesquisadores.

O Maxixe


O maxixe é o primeiro tipo de dança urbana criada no Brasil. Como todas as criações desse nosso misturadíssimo povo, o maxixe se formou musical e coreograficamente pela fusão e adaptação de elementos originados em várias partes.
Segundo o que se apurou até agora, a polca européia lhe forneceu o movimento, a habanera cubana lhe deu o ritmo, a música popular afro-brasileira como o lundu e o batuque também concorreram e finalmente o jeitinho brasileiro de dançar e tocar completaram o trabalho.
Da mesma fonte nasceu a sua coreografia: a vivacidade da polca, os requebros da habanera e do lundu. O resultado foi uma dança sensual e muito desenvolta que acabou sendo até proibida.
O maxixe nasceu primeiro como dança. Dançava-se à moda maxixe as polcas da época, as habaneras, etc. Só mais tarde nasceu a música maxixe ou o ritmo maxixe e as composições passaram a trazer impresso em suas partituras o nome de maxixe como gênero.
A época do seu aparecimento - 1870-1880 - coincide com a popularização da schottisch e da polca. Teria o maxixe nascido exatamente da descida da polca, dos pianos dos salões para a música dos choros, à base de flauta, violão e ofclide.
Transformada a polca em maxixe, via lundu dançado e cantado, por meio de uma estilização musical realizada pelos músicos dos conjuntos de choro, a descoberta do novo gênero de dança chegou ao conhecimento das outras classe sociais do Rio de Janeiro quase ao mesmo tempo que a sua criação. Os veículos de divulgação da nova dança, foram os bailes das sociedades carnavalescas e o teatro de revista.
Segundo uma versão de Villa-Lobos, o maxixe tomou esse nome de um indivíduo apelidado Maxixe que, num carnaval, na sociedade Estudantes de Heidelberg, dançou um lundu de uma maneira nova. Foi imitado e toda gente começou a dançar como o Maxixe.
Jota Efegê no seu maravilhoso livro Maxixe - a dança excomungada, editado em 1974 não corrobora esta versão. Mas também não consegue explicar a origem do nome. Em suas exaustivas pesquisas ele encontrou uma variedade grande de explicações que dão à origem do maxixe, até hoje, um certo ar de mistério.
O que se apurou realmente é que há, pela primeira vez, referências a machicheiros e machicheiras (com ch) em jornais de 29 de novembro de 1880. Foi a Gazeta da Tarde, do Rio de Janeiro que publicou uma matéria paga na coluna Publicações a Pedido nos seguintes termos:
"U.R. (traduzidas por Jota Efegê como União Recreativa) - Primeira Sociedade do Catete - Poucas machicheiras... grande ventania de orelhas na sala. Parati para os sócios em abundância. Capilé e maduro para as machicheiras não faltou, serviço este a capricho do Primeiro Orelhudo dos Seringas - O poeta das azeitonas."
Diz Jota Efegê que em nenhum dos puffs, da época do carnaval, encontrados nos jornais de antes de 1880, aparece referência ao machiche ou mesmo machicheiros e machicheiras (com ch).
Só em 1883, no Carnaval, a dança é anunciada numa quadrinha e sua prática incitada nas folganças de Momo:
Cessa tudo quanto a musa antiga cantaQue do castelo este brado se alevantaCaia tudo no maxixe, na folgançaQue com isso dareis gosto ao Sancho Pança.
Era um puff do Club dos Democráticos publicado no Jornal do Comércio de 4 de fevereiro de 1883, um domingo gordo de Carnaval. Segundo Jota Efegê esta foi a primeira referência comprovada ao nome maxixe, grafado com x e não com ch.Mas, até então, o maxixe era apenas dança.
A música denominada maxixe só se firmou como tal depois da dança se haver caracterizado plenamente. Dançava-se maxixe, ou à moda maxixe, as polcas, as habaneras, a polca-lundu e posteriormente até o tango brasileiro, chamado de tanguinho. As primeiras partituras a apresentarem o nome maxixe como gênero de música, só apareceram por volta de 1902/1903.
Na Discografia Brasileira de 78 rpm o nome maxixe só aparece na etiqueta dos discos a partir da série Zon-O-Phone 1500 da Casa Edison ou, mais precisamente, nos discos 1585, 1597 e 1598.
A divulgação do maxixe dança foi levada a efeito por um bailarino brasileiro chamado Antônio Lopes de Amorim Diniz - um dentista - que abandonou a profissão e em companhia das bailarinas Maria Lina, Gaby e Arlette Dorgère levou o maxixe para Paris fazendo enorme sucesso. Pela elegância dos seus passos, acabou recebendo o nome de Duque.
No Brasil sua divulgação maior se deu no teatro de revistas onde não foi menos aplaudido. Os programas das revistas traziam-no como tempero indispensável e os artistas dançavam-no com uma variedade admirável de nuanças.
Segundo Marisa Lira, o maxixe foi o primeiro passo dado para a nacionalização da nossa música popular. Os compositores da Velha Guarda dedicaram ao povo "endiabrados maxixes que entonteceram à gente daquela época".
Entre os cultores do gênero - como música e não como dança - destacam-se Irineu de Almeida, Sebastião Cyrino e Duque, Sinhô, Romeu Silva, Pixinguinha, Paulinho Sacramento, Freire Junior e Chiquinha Gonzaga - a grande maestrina brasileira - que compreendeu perfeitamente o ritmo desse gênero musical e, graças as várias facetas do seu talento, criou um maxixe para a peça "Forrobodó", uma burleta de costumes cariocas de Carlos Bittencourt e Luiz Peixoto e que fez enorme sucesso na época.

O Lundu


O lundu nasceu em Angola e Congo. Originariamente era um dança trazida pelos escravos nos primeiros anos da escravidão. A primeira referência escrita sobre esta dança data de 1780 - uma carta escrita por um antigo governador de Pernambuco ao Governo português, sobre danças de negros brasileiros denunciadas ao Tribunal de Inquisição. Nela o lundu é descrito como dança de caráter licencioso e indecente. Nos últimos anos do século XVIII, entretanto, o lundu já aparece como canção e por esta época Domingos Caldas Barbosa se apresentava nos salões fidalgos de Lisboa cantando lundu ao som da sua viola de arame. Por esta época surgem também em Portugal os primeiros exemplares de lundu registrados na pauta musical.
No Brasil, já no século XIX o lundu começa a freqüentar as festas do Império. Saindo das senzalas ele penetra nos salões e passa a ser cantado ao som do violão, ao lado da modinha.
O lundu foi a primeira forma de música negra que a sociedade brasileira aceitou e por ele o negro deu à nossa música algumas características importantes.
Para aceitar integralmente o lundu, a sociedade colonial brasileira transformou-a em canção, libertando-se de uma coreografia que certamente a escandalizava e irritava.
E esta ascensão se deu pelo caminho da comicidade. Cantando sensualmente os amores condenados pela sociedade, o lundu se fixou definitivamente na exaltação da negra e do mulato. Eram muitas vezes cômicos e sempre risonhos. Foi esta comicidade e sorriso o disfarce psicossocial que lhe permitiu a difusão nas classe dominantes. E por isso mesmo - por tratar de temas nem sempre aceitos pela sociedade - é que a maioria dos lundus não trazia o nome do autor que preferia se esconder no anonimato para não ser identificado e talvez perseguido pelas autoridades.
O lundu-dança continuou a ser cultivado pelos negros e mestiços apoiado apenas nos estribilhos curtos. O lundu-canção, graças a sua origem popular passou a interessar tanto aos compositores cultos que acabaram por modificá-lo a ponto de ser confundido com a modinha.
Os músicos de teatro, por seu turno, viram na união de um texto engraçado com a malícia da dança uma boa atração para o publico de brancos que freqüentava os teatros e por isso deram-lhe apoio e divulgação.
Dentre os compositores dessa modalidade de música destaca-se Xisto Bahia. Um músico, ator e compositor que nasceu em Salvador em 5 de setembro de 1841 e faleceu em Caxambu, Minas Gerais, em 30 de outubro de 1894. Xisto Bahia é considerado um dos mais notáveis artistas baianos de todos os tempos. Alem de compositor era exímio trovador e artista dramático, embora tenha feito muita comédia, distinguindo-se sempre pela mais completa assimilação dos papeis que interpretava.
A matriz que preparamos para ilustrar essa modalidade de música nos mostra os dois tipos de lundu: o semelhante a modinha, cantado nos salões e o popular cantado nos teatros. A maioria ou era anônima ou de Xisto Bahia.

A Modinha


A maioria dos pesquisadores brasileiros costuma classificar a modinha como a primeira manifestação popular musical civilizada tipicamente brasileira. Seu estudo, porém, só começou a ser desenvolvido a partir de 1930 quando Mário de Andrade publicou suas Modinhas Imperiais.
A data precisa do nascimento da modinha é questionada pelos diversos estudiosos mas há documentos que lhe fazem referência desde 1787. É o caso, por exemplo, de William Beckford, um aristocrata inglês, que em seu Diário registra na data de 14 de junho de 1787 o seguinte:
Numa janela, imediatamente acima da fonte luzidia de Sua Reverendíssima, avistamos as duas belas irmãs, damas de honor da Rainha, acenando-nos convidativamente para que galgássemos vários lanços de escada, até os seus aposentos que estavam apinhados de sobrinhos, sobrinhas e primos aglomerados em torno de duas jovens muito elegantes, as quais, acompanhadas pelos seus mestres de canto, cantavam modinhas brasileiras. Aqueles que nunca ouviram este original gênero de música, ignoram e permanecerão ignorando as melodias mais fascinantes que jamais existiram.
Beckford ouvia essas modinhas nos paços da Rainha D. Maria I, em Lisboa. Mas, que modinhas seriam essas ?
Segundo pesquisas de Mozart de Araujo já em 1775 vários historiadores mencionavam a presença nos Palácios de diversas cidades portuguesas, de um brasileiro que ao som de uma viola de arame cantava modinhas e lundus - Domingos Caldas Barbosa - e dele eram, provavelmente, as modinhas brasileiras ouvidas por Beckford.
Foi Domingos Caldas Barbosa o primeiro a empregar a palavra modinha para designar o tipo de música que cantava. Segundo Mozart de Araujo, enquanto autores portugueses da época usavam o termo genérico de moda para designar as cantigas, romances e árias de salão que compunham para os saraus da nobreza lisboeta, Domingos Caldas Barbosa, modestamente, designava as suas modas com o diminutivo simples de modinhas.
Domingos Caldas Barbosa era um mulato filho de um português com uma angolana nascido no Rio de Janeiro por volta de 1739 e falecido em Lisboa em 9 de novembro de 1800. Sua educação foi iniciada pelos jesuítas. Mandado para Portugal em 1763, prosseguiu seus estudos em Coimbra mas a grande fase de sua vida foi vivida em Lisboa onde se celebrizou pelas trovas improvisadas ao som da sua viola de corda de arame. Segundo alguns pesquisadores, entre dezenas de composições suas sobraram muitos versos que foram musicados por outros e apenas uma peça completa - letra e música - intitulada Ora à Deus, senhora Ulina. Suas composições encontram-se reunidas no livro Viola de Lereno, pseudônimo que ele adotou para suas composições musicais.
Apesar de considerado o pioneiro da modinha brasileira, Caldas Barbosa não foi o único compositor brasileiro a brilhar pelo seu talento de compositor naquela época. Descobriu-se, mais tarde, que no início do Século XIX vivia no Rio de Janeiro um outro músico popular que causaria uma profunda impressão a alguns viajantes que escreveram sobre o Brasil daquela época. Era Joaquim Manoel da Câmara. Há um depoimento de Freycinet, datado de 1817 que diz:
Nada me pareceu mais espantoso do que o raro talento na guitarra do mulato Joaquim Manoel. Sob seus dedos o instrumento tinha um encanto inexprimível que nunca mais encontrei entre os nossos guitarristas europeus mais notáveis. Esse músico é também autor de várias "modinhas", gênero de romances muito agradáveis, das quais Neukomm publicou em Paris uma coletânea.
E quem foi Neukomm ? Sigismundo Neukomm foi um famoso músico austríaco, discípulo predileto de Haydn, que viveu no Rio de Janeiro de 1816 a 1821 e aqui foi mestre do Príncipe D.Pedro, de sua mulher D. Leopoldina, da Infanta D. Isabel Maria e também de Francisco Manoel da Silva, o autor do Hino Nacional Brasileiro. Encantou-se com o talento de Joaquim Manoel e ao regressar à Europa fez imprimir em Paris, em 1824, um álbum de 20 modinhas de Joaquim Manoel.
Outro importante músico e compositor de modinhas conhecido dos brasileiros foi Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) o mais celebrado poeta da colônia, autor do famoso livro "Marília de Dirceu" e partícipe da famosa Inconfidência Mineira.
Segundo Mozart de Araujo, há registros de modinhas recolhidas em São Paulo e Minas Gerais em 1817-1818 figurando entre elas, algumas em que Dirceu (Tomás Antônio Gonzaga) celebra os encantos da sua Marília (Maria Joaquina Dorotéia de Seixas).
Já no Império, muitos nomes se tornaram célebres como compositores de modinhas e, entre eles, Gabriel Fernandes Trindade - considerado o primeiro autor de modinhas a ser impressa no país; o Padre Teles Leal - pertencente a uma família de músicos; e uma Dona Mariana, que além de compositora era exímia cantora de modinha no Rio de Janeiro. Seria ela a precursora da nossa famosa Maestrina Chiquinha Gonzaga.
A respeito da vida desses modinheiros - diz Mozart de Araujo - nada se sabe. De sua obra, entretanto, salvaram-se algumas peças, hoje raríssimas.
O mais importante músico desta época é Cândido Inácio da Silva considerado ora como mineiro, ora como carioca. Teria nascido provavelmente em 1805 e falecido em 1838.
Segundo Mário de Andrade, a Cândido Inácio da Silva se devem as mais belas e mais estimadas modinhas do nosso Primeiro Império. Cândido, que era além de compositor, cantor e instrumentista de viola e violino, foi discípulo do Padre José Mauricio e de Francisco Manoel da Silva - um dos autores do nosso Hino Nacional. Dentre suas composições conhecidas destacam-se Quando as glorias que gozei, Busco a campina serena, A hora em que ti não vejo, Minha Marília não vive, Um só tormento de amor e outras.
Outros nomes que não podem ser esquecidos nesta fase são o Padre José Maurício e Marcos Portugal. Do primeiro se destaca a modinha Beijo a mão que me condena com letra do seu filho. Do segundo a música colocada numa poesia de Domingos Caldas Barbosa e da qual resultou a modinha chamada Você trata o amor em brinco.
O Padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) é considerado por muitos o maior nome da música colonial do Brasil. Deixou uma vasta obra classificada por alguns pesquisadores como barroca, no que é contestado por outros que a consideram provindo diretamente do classicismo vienense. Como Caldas Barbosa e Joaquim Manoel, o Padre José Maurício era também filho de negra com pai branco.
Marcos Portugal, por seu turno, era Português, de família fidalga e aqui chegou por volta de 1811. Era compositor e considerado o maior músico do reino. Além de uma produção rigorosamente erudita, deixou modinhas, algumas das quais com letra de Caldas Barbosa ou Tomás Antônio Gonzaga.
No início do Segundo Reinado, as modinhas passaram a ser dos poetas ou seja as melhores poesias da época eram musicadas e apresentadas sob a forma de modinha ao público. Segundo Mozart de Araujo "desejosos de conseguirem projeção e de se aproveitarem do prestígio que a "modinha" desfrutava, compositores estrangeiros passaram a musicar poemas dos nossos melhores poetas tais como Gonçalves Dias, Laurindo Rabelo, Alvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Castro Alves e outros. Surgem então novas modinhas de autores brasileiros onde se encontram uma "melódica vernácula, valorizada pela prosódia, pelo jeito de interpretar e pelos maneios melódicos do violão popular".
Diz ainda Mozart de Araujo que a partir de então a modinha brasileira se diferencia das canções dos outros povos pelo seu conteúdo de lirismo, de ternura, de saudade. Foi dessa modinha que Mário de Andrade extraiu a sua definição lapidar: "A modinha é um suspiro de amor".
Há muitas modinhas famosas cujo autor é desconhecido. Vez por outra aparece algum pesquisador tentando atribuir a esse ou àquele nome a autoria de tais modinhas sem contudo convencer à maioria, continuando, assim, a ser consideradas de autoria anônima.
A mais famosa delas é sem dúvida, A Casinha pequenina mas podemos citar outras de igual fama: Perdão Emilia, Hei de amar-te até morrer, Se os meus suspiros pudessem, Acordai donzela, Moreninha, Se eu te pedisse, Escrevi teu nome na areia, Acorda Adalgisa, Elvira escuta, Quisera amar-te, Sereno da madrugada e outras.
Mais recentemente, já no século XX, Catullo da Paixão Cearense e Villa-Lobos são os compositores de modinhas que mais se destacaram sendo que Catullo se tornou um clássico desse gênero.

A vida de Elis Regina (falecida cantora de mpb)


Nascimento: Março 17, 1945 ás 15:10 em Porto Alegre, Brasil. Morte: Janeiro 19, 1982 ás 11:45 em Sao Paulo, Brasil.
1945 17 de março: Nascimento em Porto Alegre, RS, no Hospital da Beneficência Portuguesa, às 15:10 h.
1952/1956Curso primário no Grupo Escolar Gonçalves Dias, Porto Alegre.
1956 Setembro: Canta pela primeira vez no rádio, no programa Clube do Guri, animado por Ary Rego, na Rádio Farroupilha de Porto Alegre. Passa a integrar o elenco fixo do programa, ganhando um pequeno cachê e presentes dos patrocinadores. Tempos depois torna-se secretária do programa: além de cantar, lê recados, nomes de aniversariantes e apresenta os candidatos.
1957/1960Ginásio no Instituto de Educaçao Flores da Cunha, em Porto Alegre.
1959O primeiro contrato profissional, com a Rádio Gaúcha de Porto Alegre, para se apresentar no Programa Maurício Sobrinho de Maurício Sirotsky Sobrinho.
1960Grava para a Continental um compacto simples com as músicas Dá sorte e Sonhando.
1961Cursa seis meses de classico no Colégio Estadual Júlio de Castilhos e transfere-se para o curso normal da Escola Diogo de Souza. Grava o primeiro LP para a Continental: "Viva a Brotolandia", produçao de Nazareno de Brito. 6 de dezembro: Com uma grande festa, Elis é coroada "Rainha do Disco Clube", em Porto Alegre.
1962Grava o segundo LP para a Continental: "Poema". 31 de dezembro: Recebe no Salão de Atos da PUC, em Porto Alegre, o prêmio de melhor cantora do ano.
1963Grava, para a CBS, O LP "0 Bem do Amor", produzido por Evandro Ribeiro. Abandona o curso normal ao terminar o segundo ano.
1964 Março: Elis transfere-se para o Rio de Janeiro. Assina contrato com a TV Rio, onde participa do programa Noites de Gala, ao lado de Marly Tavares, Trio Iraquiti, Jorge Ben e Wilson Simonal. Da tevê é levada por Dom Um Romão para apresentar-se no Beco das Garrafas. Lá, no Little Club, faz o show Bossa três, com o Copa Trio de Dom Um Romio e Ins Lettieri, e, na boate Bottle's, o show Sósifor, com Marly Tavares e Gaguinho, sob a direçio de Luiz Carlos Mieli e Ronaldo Bôscoli. 31 de agosto: Primeiro show de Elis em Sio Paulo: Boa bossa, show beneficente para a Associaçio de Moças da Colônia Sírio-Libanesa, dirigido por Walter Silva. Do show participam Agostinho dos Santos, Sílvio César, Lennie Dale, Peri Ribeiro e o Zimbo Trio. Logo em seguida Elis estréia um show na boate Djalma, ao lado de Sílvio César. Segundo Walter Silva, o show foi um fracasso total de público. Outubro: E contratada por Armando Pittigliani, da Companhia Brasileira de Discos, selo Philips. Participa, junto com o Zimbo Trio, do programa Primeira Audiçao, apresentado no Colégio Rio Branco, SP, e gravado em vídeo4eipe pela TV Record. 19 de outubro: Participa do show Bossa só, no Clube Hebraica, SP. 26 de outubro: Canta com Marcos Vaíle a música Terra de ninguém no show O remédio é bossa, promovido pela Escola Paulista de Medicina e dirigido por Walter Silva. 23 de novembro: Faz a segunda parte (que era considerada, na época, a parte nobre dos sbows) do show 1.' Denti-Samba, promovido pela Faculdade de Odontologia da Universidade de Sio Paulo e dirigido por Walter Silva. Elis canta acompanhada pelo Copa Trio, que tocava com ela desde o Beco das Garrafas. Na primeira parte do show, as participaç5es de Walter Santos, Peri Ribeiro, Geraldo Vandré, Oscar Castro Neves, Paulinbo Nogueira, Alaíde Costa e Zimbo Trio.
19656 de abril: Recebe o prêmio Berimbau de Ouro por ter vencido o 1 Festival de Música Popular Brasileira, realizado pela TV Excelsior, com a música Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Morais. 8 de abril: Estréia no Teatro Paramount, SP, o show Elis, Jair e Jongo Trio, produzido por Walter Silva. O show apresenta~se ainda nos dias 9 e 12 e é gravado ao vivo. O disco, "Dois na Bossa", faz um grande sucesso e Elis e Jair são contratados pela TV Record para fazer um programa semanal de música brasileira. Frase de Elis na época: "Você sabe lá, o que é, com vinte anos, sair pra rua e ser reconhecida? Você fica louca, se achando Deus". 10 de abril: Recebe o prêmio Roquete Pinto como a melhor cantora de 1964, na TV Record. 19 de maio: Estréia na TV Record o programa semanal O Fino da Bossa, comandado por Elis, com a presença constante de Jair Rodrigues. Pelo programa passam os maiores nomes da música brasileira, dos mais antigos aos mais novos. O Fino da Bossa passa a ser gravado às segundas-feiras no Teatro Record, SP, transmitido às quartas-feiras para São Paulo e nos outros dias da semana para o resto do país. Direção: Manoel Carlos, Raul Duarte, Tuta Machado de Carvalho e Nilton Travesso. É lançado o disco "Samba eu canto assim", primeiro LP individual de Elis para a Companhia Brasileira de Discos, CBD, selo Philips. 22 de agosto: Estréia na TV Record o programa semanal Jovem Guarda, sob o comando de Roberto Carlos, transmitido aos domingos.
1966Janeiro: Elis vai para a Europa e fica até o início de março. Faz shows em Lisboa e Luanda com Jair Rodrigues e o Zimbo Trio. 10, 11 e 12 de março: Apresenta~se com o Zimbo Trio no Jardim de Inverno Fasano, SP. Lança o disco "Elis", o segundo pela CBD-Philips, onde grava Canção do sal, de Milton Nascimento. E a primeira vez que uma música de Milton é gravada. Setembro: Participa do II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, cantando Ensaio geral, Gil, e Jogo de roda, de Edu Lobo e Ruy Guerra Só Ensaio geral chega à classificaçao final, ficando em quinto lugar, e Elis é muito vaiada. Vencedores do festival: Chico Buarque com A banda, cantada por ele e Nara Leio, Lido Vandré e Théo de Barros com Disparada, cantada por Jair Rodrigues. Durante o festival é gravado o primeiro disco independente feito no Brasil "Viva o Festival da Música Popular Brasileira" -, lançado pelo selo Artistas e fabricado pela Rozenblit. Elis participa com Ensaiogeral e Jogo de roda. Outubro: Canta Canto triste, de Edu Lobo e Vinícius de Morais, na fase nacional do I Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, acompanhada por uma orquestra de cordas e por Edu Lobo ao violão. Vence Saveiros, de Dori Caymmi e Nelson Motta, cantada por Nana Caymmi, música que Elis viria a gravar no mesmo compacto Canto triste. Elis e Edu são vaiados quando a música é classificada para a finalíssima da fase nacional. Dezembro: Elis e Baden Powell fazem show na boate ZumZum, RJ.
1967Junho: No dia 19, a TV Record resolve tirar o Fino do ar. Depois de perder pontos no Ibope, o programa passa a ser dirigido por Mieli e Bôscoli: é o Fino 67. Mesmo assim, o programa não se recupera, e a direçio da Record resolve engloba-lo em uma série chamada Frente Única - Noite da MPB, gravada às segundas-feiras no Teatro Paramount, SP, produzida por Solano Ribeiro. A cada segunda, apresentadores diferentes: Geraldo Vandré, Chico e Nara, Gilberto Gil, Elis e Jair. 3 de julho: Estréia a série Frente Única - Noite da MPB. Primeiro programa: Elis, sob a direção de Mieli e Bôscoli. A série dura nove programas, três deles apresentados por Elis. Nessa ocasiío Elis participa, ao lado de Gilberto Gil e Edu Lobo, de uma passeata em defesa das raízes da MPB, contra a invasão da música estrangeira. A manifestação passa para a história, como a "passeata contra as guitarras". Outubro: Elis se apresenta no III Festival de Música Popular Brasileira, TV Record, conhecido como "o festival da virada". Nasce a Tropicália: Gilberto Gil e Os Mutantes cantam Domingo no Parque, que ganha o segundo lugar, Caetano Veloso, com o conjunto argentino Beat Boys, canta Alegria, alegria, e fica com a quarta classificação. Elis defende O cantador, de Dori Caymmi e Nelson Motta. A música é classificada para a finalíssima, mas só leva um prêmio: o de melhor intérprete, para Elis. O festival é vencido por Ponteio, de Edu Lobo e Capinam. Chico Buarque fica em terceiro lugar com Roda-viva. Lançamento de compacto. De um lado, Tristeza que se /oi, de Adílson Godoy, e de outro, Upa, neguinho, de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, um dos maiores sucessos da carreira de Elis. Outubro e novembro: II Festival Internacional da Canção, promovido pela Tv Globo. Na parte nacional vence a música Margarida, de Guttemberg Guarabyra. O segundo lugar vai para Milton Nascimento e sua Travessia, e o terceiro para Carolina, de Chico Buarque. Elis não participa desse fesitval, mas lança um compacto com Travessia de um lado e Manifesto, de Guto e Mariozinho Rocha, do outro. Dezembro: dia 5: Elis Regina casa-se, no civil, com Ronaldo Bôscoli. Ela tem vinte e dois anos, e ele, trinta e oito. dia 7: Cerimônia religiosa do casamento na Capelinha Mairvnll:, Floresta da Tijuca, RJ, onde mal cabe o véu de dez metros da noiva. Frase de Ronaldo na época: "Não sou rico, mas estou bem. Ela ganha quinze milhões (velhos) por mês e eu, dois e meio. O trivial da casa será mantido por mim. O luxo, por ela". O casal passa a morar na Avenida Niemeyer, São Conrado, RJ.
1968Janeiro: Elis vai para a Europa representar o Brasil no II Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical (MIDEM), em Cannes, França. Canta no show de abertura festival. Delirantemente aplaudida pela platéia de duas mil pessoas, Elis volta ao palco para bisar Upa, neguinho. apresentações nas Tvs inglesa, holandesa, belga, suíça e sueca. janeiro: Vai ao ar pela última vez o programa Jovem Guarda. 29 de janeiro: Estréia, na TV Record, o programa mensal Especial, dirigido por Mieli e Bôscoli, gravado no Teatro Paramount, SP. 6 de março: Elis estréia no Olympia de Paris. Canta oito números, acompanhada pelo Bossa Jazz Trio. Entre as mú sicas Samba da bênção, de Baden Powell e Vinicius de Morais cantada em francês, versão de Pierre Barouli. Volta ao palco por seis vezes no final do show. 2 de abril: Elis volta ao Brasil. 7 de abril: A TV Record dedica o seu Show do Dia 7 a Elis. Três horas e meia de programa, onde se conta a vida dela. É homenageada com as presenças dos pais, da avó, do irmão Rogério, de Francis Hime, Chico Buarque e MPB-4, Marcos Valle, Théo de Barros, Edu Lobo, Vinícius de Morais, Baden Powell, Isaura Garcia, Sílvio César, Agnaldo Rayol, Ronald Golias, Chico Anísio, Wanderléa, Erasmo Carlos, Ronnie Von, Nelson Motta, Dori Caymmi, Márcia, Hebe Camargo, Wilson Simonal, Mieli e Ronaldo Bôscoli. Maio: Elis substitui, às pressas, Cynara e Cybele num show elas faziam com Baden Powell. Elis canta sem ensaiar. Além disso, apresenta-se com Jair Rodrigues e o Bossa Jazz no Teatro Ópera, em Buenos Aires. 11 de maio: Começa a I Bienal do Samba, promovida pela TV Record. Elis participa e vence com Lapinha, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro. 30 de maio: Vai ao ar pela TV Record o segundo programa Elis Especial, gravado no Teatro Paramount, SP, dirigido por Mieli e Bôscoli. 27 de junho: Terceiro programa Elis Especial, gravado no Teatro Paramount, SP, dirigido por Mieli e Bôscoli. Agosto: Elis faz uma temporada de um mês na boate Sucata, de Ricardo Amaral, no Rio. Seiscentas pessoas assistem à estréia do show, dirigido por Mieli e Bôscoli. Outubro: Elis integra o júri internacional do III Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo. Vence Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque, vaiada pela platéia, que prefere Caminhando ("Pra não dizer que não falei de flores"), de Geraldo Vandré. Um festival muito acidentado na parte nacional: Gil e Caetano são desclassificados na eliminatória realizada no Tuca, em São Paulo. Gil com Questão de ordem e Caetano com É proibido proibir. Caetano faz no palco um inflamado e belo discurso, perguntando à platéia que o vaiava sem parar: "Esta é a juventude que diz que vai tomar o poder? (. . .) Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos". 3 de outubro: Em entrevista ao Jornal da Tarde, Elis fuzila o Tropicalismo: "Eu só digo uma coisa: vai bem quem faz coisa séria. Quem quer fazer galhofa, piada com o público, que se cuide. Tropicália é um movimento profissional e promocional, principalmente. De artístico mesmo não tem nada, nada, nada". É lançado O LP "Elis Especial", pela CBD-Philips. Do repertório, Corrida de jangada, de Edu Lobo e Capinam, faz sucesso. A TV Record promove o IV Festival de Música Popular Brasileira. Elis não participa. O júri é dividido em dois: o erudito e o popular. Pelo júri erudito vence São São Paulo, meu amor, de Tom Zé; pelo popular, Bem-vinda, de Chico Buarque. Divino maravilhoso, de Caetano e Gil, cantada por Gal Costa, fica em terceiro lugar no júri erudito e nao se classifica no popular. Memórias de Marta Saré, de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, é a única a conseguir um consenso entre os dois: fica em segundo lugar. 23 de outubro: Elis inicia nova temporada no Olympia, em Paris. Para essa apresentação, leva os músicos Erlon Chaves, Roberto Menescal e Antônio Adolfo. A temporada estende-se até o dia 11 de novembro. A revista Fatos e Fotos de 14/11/68 registra: "É a primeira vez que um artista consegue se apresez~tar duas vezes no mesmo ano no Olympia. Na estréia, Elis véste um Saint-Laurent preto, longo, e recebe oito cortinas. Entre muitos telegramas, exibe um: 'Mil cortinas pra você. Beijos. Ronaldo'". Na França, Elis grava um compacto duplo com a participação de Pierre Barouh na música Noite dos mascarados, de Chico Buarque, cantada em francês. Arranjos de Eumir Deodato. Apresenta-se, também, no Cassino Estoril, em Lisboa, Portugal. 28 de novembro: A TV Record apresenta o especial Elis em Paris, gravado durante a temporada no Olympia.
1969Janeiro: Elis apresenta-se, mais uma vez, no Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical (MIDEM), em Cannes, França. Canta Corrida de jangada, de Edu Lobo e Capinam, Memórias de Marta Saré, de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, e Casa-forte, de Edu, com a participação dele. Faz programas nas Tvs francesa, inglesa, suíça, sueca, belga e holandesa. 20 de fevereiro: Elis volta ao Brasil. 18 de março: Estréia, na TV Record, a série de programas Elis Studio, gravada sem a presença do público, dirigida por Mieli e Bôscoli. A cada programa, um tema e um convidado especial. Um deles: Roberto Carlos. 5 de abril: Na quadra da Estação Primeira de Mangueira, a escola desfila para Elis e lhe concede o título de "Cidadã da Mangueira". Maio: Elis sai da TV Record. 4 de maio: Vai para Londres, onde, nos dias 6 e 8, grava um LP com o maestro inglês Peter Knight. Volta ao Brasil no dia 13. Junho: Vai para a Suécia e grava um LP com o gaitista Toots Thielemans. Os dois discos são lançados na Europa, e só anos mais tarde, no Brasil. Lança, no Brasil, O LP "Elis, como e porquê". No repertório. O sonho, de Egberto Gismonti, e Casa-forte, de Edu Lobo. 1 de julho: Estréia no Rio de Janeiro o show Elis com Mieli & Bôscoli, no Teatro da Praia, que ela arrenda. Banda: Roberto Menescal (guitarra), Wilson das Neves (bateria), José Roberto (contrabaixo), Hermes (percussão) e Jurandir (piano). Agosto: Em entrevista a Clarice Lispector, Elis afirma: "O palco está tão ligado à minha maneira de ser, à minha evolução, aos meus traumas, que eu acho que me separar do palco é a mesma coisa que castrar um garanhão" Elis lança, com Pelé, um compacto com duas composições dele: Vexamão e Perdão não tem. 2 de novembro: O show Elis com Mieli & Bôscoli estréia em São Paulo, no Teatro Maria Della Costa. Elis está grávida. No 5o. e último Festival de Música Popular Brasileira, TV Record, é proibido o uso da guitarra elétrica. Elis não participa. Vence Paulinho da Viola com Sinal fechado. Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e Edu Lobo saem do Brasil. Caetano e Gil para Londres, Chico para Roma, e Edu Lobo para Los Angeles.
19702 de abril: Entrando no sétimo mês de gravidez, Elis estréia no Canecão, RJ, um show dirigido por Mieli e Bôscoli. Acompanham Elis uma banda e uma orquestra. Direção musical de Erlon Chaves. Elis canta uma música de Caetano Veloso (Não tenha medo) e outra de Gilberto Gil (Fechado pra balanço), feitas especialmente para ela e mandadas de Londres, e também As curvas da estrada de Santos, de Roberto e Erasmo Carlos. Nesse show Elis revela Tim Maia, cantor e compositor que já havia trabalhado com Roberto e Erasmo Carlos no início de suas carreiras e que voltava dos Estados Unidos depois de morar lá por alguns anos. Nessa mesma ocasião, Elis lança O LP ". . . Em Pleno Verão", pela CBD-Philip5. No repertório, Vou deitar e rolar ("Quaquaraquaquá"), de Baden Powell e Paulo César PInheiro, e, com a participação de Tim Maia, These are the songs, do próprio Tim. Vou deitar e rolar faz sucesso. 17 de junho: Aos vinte e cinco anos, Elis dá à luz um menino, João Marcelo, na Casa de Saúde São José, RJ. João Marcelo nasce forte, mas nos primeiros meses de vida tem muitos problemas por ser alérgico a leite de vaca, chegando a ficar hospitalizado. Sem leite para amamentá-lo, Elis vai à televisão e pede amas-de-leite para o filho. 20 de novembro: Elis estréia, para uma curta temporada, na enorme casa de shows Di Mônaco, SP. Nome do show: Com a cuca fundida. Lança um compacto duplo pela CBD-Philips, cuja primeira música é de dois compositores novatos: Madalena, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza. A gravação faz um grande sucesso. Nesse ano a TV Globo promove o V Festival Internacional da Canção, do qual Elis não participa. Vence a música BR-3, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, cantada por Tony Tornado. Ivan Lins fica em segundo lugar com a música O amor é meu pais, dele e de Ronaldo Monteiro de Souza. Em terceiro lugar, Encouraçado, de Sueli Costa e Tite de Lemos, e em quarto, Um abraço terno em você, viu mãe? de e com Gonzaguinha.
1971Janeiro: Elis assina contrato com a TV Globo e passa a participar do programa Som Livre Exportação, dividindo seu comando com Ivan Lins. No dia 6, o programa é gravado em São Paulo, no Palácio de Exposições do Anhembi. Cinco horas de show para uma platéia de quase cem mil pessoas. Abril: Lança, pela CBD-Philips, o LP "Ela", onde, além de Madalena, já sucesso, grava Roberto e Erasmo Carlos, Lennon e McCartney, Caetano, e Black is beautiful, de Marcos e Paulo Sérgio Vaíle. Junho: Estréia, pela TV Globo, o programa mensal Elis Especial, dirigido por Mieli e Bôscoli. Outubro: Elis aceita presidir o júri do VI Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo. Correm boatos de que artistas como Chico Buarque (já de volta ao Brasil), Tom Jobim, Edu Lobo e Paulinbo da Viola aproveitariam a transmissão ao vivo para protestar contra a censura. As autoridades tomam providências e eles acabam se retirando do certame. Vence a música Kiriê, de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós. Sai o disco intitulado "Top Star Festival", gravado por encomenda da ONU em solidariedade aos refugiados de todo o mundo. Elis é a única convidada brasileira a participar, com Madalena.
1972 1o. de março: Estréia no Teatro da Praia, RJ, o show É Elis, direção de Mieli e Bôscoli. Banda: César Camargo Mariano (piano), Luisão (contrabaixo), Luís Cláudio (guitarra), Ronaldo (tumbadora) e Paulinho Braga (bateria). Nesse show Elis lança algumas músicas de compositores novos: Sueli Costa, Vitor Martins, Fagner e João Bosco e Aldir Blanc. 11 de maio: Depois de várias separações e reconciliações, Elis e Ronaldo Bôscoli se desquitam. O juiz determina que Elis nada tem a receber de Ronaldo. Este teria que dar uma pensão de três salários mínimos para João Marcelo, que fica sob a guarda da mãe. Junho: Sai do ar o programa Elis Especial, depois de quase um ano em cartaz. Elis rescinde seu contrato com a TV Globo, alegando falta de condições para trabalhar com o ex-marido. Setembro: Elis canta nas Olimpíadas do Exército, no ano do Sesquicentenário da Independência. Outubro: Elis estréia no Mônaco Music Haíl, SP, com César Mariano e uma banda de onze músicos. LP "Elis", pela CBD-Phonogram/Philips. Músicas marcantes: Águas de março> de Tom Jobim, Atrás da porta> 1de Francis Hime e Chico Buarque, Nada será como antes e Cais, ambas de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. Arranjos e teclados: César Camargo Mariano. A música Diálogo, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, vence o Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, já completamente esvaziado pela ausência de outros grandes nomes da música brasileira. Em segundo lugar, Fio Maravilha, de Jorge Ben. É o sétimo e último FIC.
197310, 11, 12 e 13 de maio: A Philips promove, no Palácio de convençóes do Anhembi, SP, a Phono 73, uma série de shows com seus contratados. Entre eles, Elis, Gal, Bethânia, Gil, Caetano, Chico, Fagner, Nata Leão. Os shows são gravados para posterior lançamento em discos. Cada artista se apresenta sozinho e, antes de sair, canta um número com artista seguinte. Elis é recebida com frieza pela platéia. Alguém do público grita um gracejo pesado para ela. Caetano Veloso, na platéia, levanta-se e grita: "Respeitem a maior cantora desta terra". Ela canta Cabaré, de João Bosco e Aldir Blanc, É com esse que eu vou, de Pedro Caetano, Ladeira da preguiça, de e com Gilberto Gil. A apresentação de Elis é no dia 11, sexta-feira, justamente o dia em são desligados os microfones de Gilberto Gil e Chico Buarque, quando eles tentam cantar Cálice, a primeira parceria dos dois, durante algum tempo proibida pela censura. Julho: Lançamento do disco - outra vez "Elis" -, que estava sendo gravado desde março. O LP vem com dez músicas: quatro de Gil, quatro de João Bosco e Aldir Blanc, Folhas secas, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, e É com esse que eu vou, de Pedro Caetano. 10 de agosto: Em um ônibus Mercedes-Benz, Elis parte do Lord Hotel de São Paulo para uma excursão de trinta e seis dias pelos Estados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná, pelo chamado "Circuito Universitário". Banda: César Mariano (teclados), Paulinho Braga. (bateria), Luisão (baixo), Chico Batera (percussão), Olmir Stocker (guitarra), Rogério Costa (som) e mais iluminador, bilheteira, administrador, contra-regra, um representante de Marcos Lázaro e o motorista. "Esse circuito, de universitário só tem o nome. Foram poucos os estudantes que vi. A gente, por saber que vai ao encontro dos universitários, prepara um trabalho sério, consciente, de acordo com a idéia do que é proposto. E, no fim, tem que enfrentar uma massa descaracterizada, reunida em ginásios e cinemas, quando na verdade isso deveria ser feito no próprio campus" (Elis, para a jornalista Pink Wainer). Depois dessa excursão, Elis rompe com o empresário Marcos Lázaro.
1974Fevereiro.. Para comemorar seus dez anos de carreira, Elis vai para Los Angeles gravar um disco com Tom Jobim. Com Elis vão César Mariano (teclados), Hélio Delmiro (guitarra e violão), Luisão (baixo), Paulinho Braga (bateria). Lá, junta-se ao conjunto o compositor, arranjador e violonista Oscar Castro Neves, além de uma orquestra de cordas regida pelo maestro Bili Hitcbcock. Tom Jobim participa do disco fazendo arranjos, tocando piano e violão e cantando em algumas faixas. César Mariano também participa com arranjos e piano. O disco é gravado nos estúdios da MGM em Los Angeles, entre os dias 22 de fevereiro e 9 de março. Antes de encontrar~se com Tom, Elis declara: "Tom me assusta um pouco. Mas é importante demais conviver com esse monstro sagrado da nossa música, e a responsabilidade de gravar a seu lado balança um pouco qualquer pessoa". Depois de encontrar-se com ele: "Foi maravilhoso, e Tom é divino. Nunca vi pessoa mais simples e encantadora" (Folha de 5. Paulo, 17/4/74). Elis e César Mariano mudam-se para São Paulo e passam a morar na Rua Califórnia, no bairro do Brooklin. 2 de maio: Estréia no Teatro Maria DeIla Costa, SP, o recital Elis, com direção musical de César Mariano. Banda: Luisão (baixo), Hélio Delmiro (guitarra e violão), Paulinho Braga (bateria), Chico Batera (percussão), além do próprio César (piano), mais a participação de cinco músicos do naipe de cordas da Orquestra Sinfônica Jovem de São Paulo. No programa do show, Elis escreve: "Já não é tão simples reunir a intenção pura ao ato de cantar. Já não é tão fácil mostrar novas músicas, quando existem dificuldades para encontrá4as. A voz e o modo mudam tudo". Julho: Elis participa do show de inauguração do Teatro Bandeirantes, SP, ao lado de Chico Buarque, Maria Bethania, Tim Maia e Rita Lee. Canta Conversando no bar, de Milton Nascimento e Fernando Brant, Travessia, de Milton, O mestre-sala dos mares) de João Bosco e Aldir Blanc, Só tinha de ser com você, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, Triste, de Tom Jobim, e Pois é de Jobim e Chico Buarque, esta com a participação de Chico. Logo após o show Elis parte para mais um Circuito Universitário. Desta vez o organizador é Roberto de Oliveira, e as apresentações são em Porto Alegre, Caxias do Sul, Curitiba, interior do Paraná e interior de São Paulo. É lançado o disco gravado com Tom Jobim em Los Angeles. 3 e 4 de outubro: Elis e Tom se apresentam no Teatro Bandeirantes, SP, em show dividido em três partes: a primeira por conta de Elis, a segunda com Tom, e, na terceira, cantam juntos. Acompanhamento do Quinteto de César Mariano e de orquestra dirigida pelo maestro Leo Peracchi. Arranjos de César Mariano, Tom Jobim e do maestro Perachi. Há nove anos Tom não se apresentava em São Paulo, desde o show O remédio é bossa, produzido por Walter Silva no Teatro Paramount em 1965. Novembro: Sai o disco anual pela CBD-Phonogram/Philips, "Elis". Destaques: Dois pra lá, dois pra cá, de João Bosco e Aldir Blanc, e Conversando no bar, de Milton Nascimento e Fernando Brant. 20 a 23 de novembro: Elis faz recitais no Teatro da Universidade Católica, Tuca, SP. Banda: César Mariano (teclados), Natan Marques (guitarra e violao), Luisão (baixo), Francisco José de Souza (percussão) e Antônio Pinheiro Filho (bateria).
1975No início do ano é criada a Trama, empresa de Elis e mais três sócios - entre eles o mano Rogério e o marido César - que passaria a produzir espetáculos musicais. O primeiro espetáculo produzido é Te pego pela palavra, com Marlene. 18 de abril: Nasce Pedro, na maternidade do Hospital São Luís, SP Segundo filho de Elis, primeiro com César Mariano. Elis: "Agora tenho dois primogênitos em casa". Setembro: Elis, César, Natan (guitarra), Crispim (guitarra e teclados), Wilson (baixo) e Nenê (bateria) começam a ensaiar o show Falso brilhante. Elis e os músicos querem fazer algo mais do que cantar e tocar. Para isso, fazem aulas de expressão corporal com José Carlos Viola, laboratórios com o psiquiatra Roberto Freire e exercícios de sensibilização teatral com Minam Muniz, a diretora do espetáculo. Contam ainda com a participação de dois atores: Lígia de Paula e Janjão. Cenários: Naum Alves de Souza. Figurinos: Lu Martin. Direção musical: César Mariano. Produção: Trama. A um mês da estréia, o grupo Passa a ensaiar num porão da prefeitura, ao lado de um banheiro público, debaixo do Viaduto do Chá, em pleno centro de São Paulo. 17 de dezembro: Falso brilhante estréia no Teatro Bandeirantes, SP. Um sucesso estrondoso do início ao fim da temporada de catorze meses. Uma média de mil e quinhenta5 pessoas por dia. O espetáculo nunca viajou.
1976Fevereiro: Minam Muniz e Naum Alves de Souza, diretora e cenógrafo de Falso brilhante, reclamam junto à Trama, produtora do espetáculo, o pagamento para cada um de cinco por cento da renda bruta do show. A SBAT Sociedade Brasileira de Autores Teatrais - consegue, então, o seqüestro de 16,66% da renda bruta do espetáculo, que ficaria depositado na Caixa Econômica Estadual até que as partes chegassem a um acordo. O caso é entregue à justiça. Elis, César, Raul Cortez e Ruth Escobar vão a Brasília e conseguem a liberação da peça Mockinpott, de Peter Weiss, cuja montagem - do Teatro de Arena de Porto Alegre - é proibida horas antes da estréia. Elis doa a renda de uma noite do show Falso brilhante para ajudar o grupo a pagar os prejuízos causados pelo adiamento da estréia. Sai o disco "Falso Brilhante" com parte do repertório do show, gravado em estúdio. Destaques: duas músicas de Belchior - Como nossos pais e Velha roupa colorida e Fascinação, grande sucesso de Carlos Galhardo, em versão de Armando Louzada. 15 de março: Premiação dos melhores do ano pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. Falso brilhante ganha o prêmio de melhor show. 24 de março: A Trama, produtora de Falso brilhante, vence na justiça a ação reclamatória de direitos autorais interposta por Minam Muniz e Naum Alves de Souza. 21 de maio: Falso brilhante comemora, com uma grande festa, cem apresentações no Teatro Bandeirantes, SP. Setembro: Elis financia o segundo número do jornal Nós Mulheres, publicado pela Associação de Mulheres, SP. 20 de outubro: Falso brilhante completa duzentas representações e bate um record no show business brasileiro: desde a estréia, em 17/12/75, até esse dia, foi visto por 194.993 pessoas. Ainda ficaria mais quatro meses em cartaz. 23 de outubro: A TV Bandeirantes leva ao ar o programa Elis Especial, produzido pela Clack e dirigido por Roberto de Oliveira. Dezembro: Elis, César e os dois filhos mudam-se do Brooklin para uma casa na serra da Cantareira, SP. ". . . Fundamental mesmo foi eu ter me admitido como um ser rural. Não só porque tenha sido uma vez rural. Não é isso. É rural porque o meu inconsciente coletivo é do campo: minha avó era pastora de ovelhas, e meu avô, plantador de uvas. Mamãe é a síntese disso, papai veio dos índios que foram enxotados da serra dos Patos, e eu e meu irmão passamos a infãncia catando cocô de vaca para que eles misturassem e fizessem plantações no quintal. Cidade não é mesmo comigo. Asfalto e óleo diesel são com o César. Ele, sim, gosta da fumaça de um onibuzinho poluído. No dia em que entendi que eu fugia de volta para o meu elemento principal, o campo, resolvi assumir tudo. E tive chance, pois logo pintou um terreno na Cantareira, a quarenta minutos de São Paulo. Fomos. No principio foi difícil, porque o César custou mais a se adaptar. Afinal, ele é da Praça da Sé. Mas tudo bem. Hoje, ele de vez em quando dá uma voltinha na cidade, toma fôlego na poluição geral e fica numa boa. (. . .)" (para a revista Amiga de 28/5/80).
19776 de janeiro: Volta ao cartaz Falso brilhante, que tinha parado no dia 18 de dezembro para um descanso da companhia. Como novidade, a inclusão de Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, de Carlos Lyra e Vinícius de Morais. 18 de fevereiro: Falso brilhante encerra sua temporada depois de catorze meses em cartaz, duzentas e cinqüenta e sete apresentações, e de ter sido visto por duzentas e oitenta mil pessoas, que lhe renderam uma bilheteria total de oito bilhões de cruzeiros para um gasto inicial de quinhentos e sessenta milhões (dados do jornal Última Hora, SP, 18/2/77). Elis está grávida de seu terceiro filho. 10 de março: César Mariano e seu grupo estréiam no Teatro Bandeirantes, SP, o show São Paulo-Brasil, com roteiro e direção de Oswaldo Mendes e assistência de direçio de Elis. O show, composto de quatro movimentos ("Chegada e reconhecimento", "Construçao da cidade", "Peso da cidade" e "Cidade assumida"), tem textos de Oswaldo Mendes. No grupo de César: Natan Marques (guitarra e violão), Crispim del Cistia (guitarra e teclados), Wilson (contrabaixo) e Dudu Portes (bateria). O repertório do show é lançado em disco pela RCA-Victor. Maio: A Rádio Jovem Pan de São Paulo passa a promover uma série de shows intitulada O Fino da Música, cuja preocupação é divulgar a música brasileira de bom nível. O primeiro show é dedicado ao choro e reúne o Regional de Canhoto; o segundo apresenta Elizeth Cardoso, Paulo Moura e Severino Araújo & Orquestra Tabajara. 25 de. julho: Grávida de sete meses, Elis apresenta-se no Fino da Música número 3, para uma platéia de mais de três mil e quinhentas pessoas, no Palácio de Convenções do Anhembi, SP. Banda: César Mariano & Grupo, mais Hélio Delmiro (guitarra) e Luisão (baixo) como convidados especiais. Participam do show Renato Teixeira (Romaria é lançada nesse dia), Ivan Lins e Cláudio Lucci, um compositor ainda desconhecido, de quem Elis acabara de gravar Colagem e Vecchio novo. Agosto: Lançamento do LP "Elis" pela Phonogram/Philips. O disco conta com as participações de Milton Nascimento, Ivan Lins e Renato Teixeira. Destaques: Caxangá, de Milton e Fernando Brant, e Romaria, de Renato Teixeira. 16 de agosto: Elis grava sua participação no programa especial de Milton Nascimento, apresentado pela TV Bandeirantes no dia 21 de setembro. Direção de Roberto de Oliveira. Às vésperas de dar à luz, Elis canta com Milton a música Caxangá, dele e de Fernando Brant. 9 de setembro: Nasce Maria Rita, na maternidade do Hospital São Luís, SP Terceiro filho de Elis, segundo de seu casamento com César Mariano. "… Eu tive uma alegria maior tendo uma filha, porque, de uma certa forma, tinha muito homem no meu pedaço. Eu acho que a Maria Rita vai ter uma vantagem, porque eu já fui pra vida. A minha mãe nunca saiu de dentro de casa" (entrevista à TV Globo, 1979). 17 de novembro: Estréia nacional do show Transversal do tempo, no Teatro Leopoldina, em Porto Alegre. Roteiro e direção de Aldir Blanc e Maurício Tapajós. Direção musical de César Mariano. Banda: César (teclados), Natan Marques (guitarra e violão), Crispim del Cistia (guitarra e teclados), Fernando Cisão (baixo), Dudu Portes (bateria). O show fica em Porto Alegre até 6 de dezembro.
19789 de janeiro: Reunião no Teatro Ruth Escobar, SP. Participam: Elis, Ivan Lins, Manha Medalha, Paulinho Nogueira, Tomzé, maestro Benito Juarez, Marcus Vinícius e mais trinta artistas. Em discussão uma proposta de estatuto para a criação da seção paulista da Sombrás (Sociedade Musical Brasileira) e da Assim (Associação de Intérpretes e Músicos). A Assim é criada na tentativa de reparar uma grave injustiça praticada com os músicos: eles são obrigados a "ceder" seus direitos conexos de interpretação no momento em que fazem algum acompanhamento em disco. Em tese, cabe aos músicos que participam de uma gravação o pagamento de dezessete por cento do que for arrecadado com o disco em vendagem e execução. Como os músicos são obrigados a abrir mão desse percentual, ele é remetido para a Ordem dos Músicos, que não tem o poder de distribuí-lo. O dinheiro fica guardado para a compra de cadeira de rodas ou para pagar enterros. Elis passa a participar das diretorias das duas entidades. 26 de janeiro: Elis, César Mariano, Martinho da Vila e Marcus Vinícius vão a Brasília para expor ao então ministro da Educação Ney Braga as diretrizes da Assim. 20 de fevereiro: Elis apresenta Transversal do tempo no Teatro Sistina de Roma, e, dias depois, no Teatro Lírico de Milão. Ela surpreende público e críticos italianos por apresentar um repertório praticamente desconhecido por eles, sem se preocupar em "puxar" os sucessos garantidos. Antes de começar o show, Elis fala ao público: "Carmen Mitanda morreu nos anos 50. A Europa precisa entender que não somos um povo só de carnaval. Temos a nossa tristeza. E não vim aqui para fazer concessões. Vou cantar exatamente o que canto em meu país". 1.o de março: Transversal do tempo faz uma apresentação no Club de Vanguardia, em Barcelona. 7 de março: Transversal do tempo estréia no Teatro Ginástico, RJ, para uma temporada de três meses. Junho: Sai O LP Transversal do tempo, gravado ao vivo, com trechos do show. Uma particularidade envolve o lançamento do disco: a RCA-Victot, que mantém César Mariano sob contrato, proibe que apareça o nome dele, como instrumentista, na capa do disco. Seu nome só poderia aparecer no que se referia às partes técnicas do show e do disco. 20 a 30 de julho: Transversal do tempo se apresenta no Teatro de Jcéia em Salvador. Agosto: O show cumpre temporadas em Belo Horizonte e Curitiba. 25 de outubro: Transversal do tempo estréia no Teatro Brigadeiro, SP Incluídas as músicas Altos e baixos, de Sueli Costa e Aldir Blanc, e Meninas da cidade, de Fátima Guedes. 8 de outubro: A revista Veja diz que Elis se recusa a levar Transversal do tempo para Buenos Aires, a convite do empresário Ronnie Scally: "Enquanto meu disco ('Falso Brilhante') continuar proibido pela censura argentina, não me apresento lá". (A censura havia interditado o disco por causa da música Gracias a la vida, de Violeta Parra.)
19791.o de janeiro: Vai ao ar, pela TV Bandeirantes, um programa especial que Elis levara um mês gravando. Ela aparece passeando e cantando com Adoniran Barbosa, visita Rita Lee em uma discoteca paulista, e com ela canta Doce pimenta, música feita por Rita para Elis. Direção do p;ograma: Roberto de Oliveira e Sueli Valente. Fim de janeiro: Elis tira Transversal do tempo de cartaz e viaja para descansar. Em mais de um ano de temporada o show foi apresentado em Porto Alegre, Roma, Milão, Paris, Barcelona, Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo. Fevereiro: Elis assina contrato com a gravadora WEA, mesmo já tendo assinado, antes, com a EMI-Odeon. Entre os projetos que envolvem o novo contrato, uma apresentação no Festival de Jazz de Montreux, Suíça, em julho. Dias depois do rompimento oficial de Elis com a Philips, a grava-dota lança, a toque de caixa, um LP intitulado "Elis Especial", com músicas que ela havia cantado em ensaios de estúdios - como guia para arranjos -, além de outras que haviam sido cortadas das edições finais dos discos por não serem consideradas boas gravações. Motivo desse lançamento: Elis devia dezesseis fonogramas à gravadora. Maio: Participa do Show de maio, com renda revertida para o fundo de greve dos metalúrgicos de São Paulo, em um enorme galpão do velho estúdio da ~ia. Vera Cruz de Cinema, em São Bernardo do Campo, com cinco mil pessoas presentes. Além de Elis, participam do show: João Bosco, Macalé, Gonzaguinha, Dominguinhos, Maria Martha, Fagner e Carimbos Vergueiro. 15 de maio: É lançado o primeiro compacto simples de Elis pela WEA. De um lado, a música O bêbado e a equilibrista~ de João Bosco e Aldir Blanc; do outro, As aparências enganam, de dois compositores novos, Tunai (irmão de João Bosco) e Sérgio Natureza. O bêbado e a equilibrista é imediatamente apelidado de "Hino da Anistia", cuja campanha se intensificava no Brasil. Julho: A WEA lança O LP "Essa Mulher", com O bêbado e a equilibrista e uma música inédita de Cartola, Basta de clamares inocência, além de uma inédita de Baden Powell e da música título, de Joyce e Ana Terra. 15 de julho: Elis apresenta~se no Grand Palace de Bruxelas, Bélgica, numa festa musical que comemora os mil anos da cidade. Toots Thielemans, um dos maiores jazzistas da gaita-de-boca e que já havia gravado um LP com Elis em 69, está presente e acompanha Elis em Madalena, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, e Maria, Maria, de Milton Nascimento e Fernando Brant. 19 de julho: Apresenta-se na Noite Brasileira do 13.o Festival de Jazz de Montreux, Suíça. Banda: César Mariano (teclados), Hélio Delmiro (guitarra), Luisão (baixo), Pauli. nho Braga (bateria) e Chico Batera (percussão). No final da noite, Elis e Hermeto Paschoal fazem uma jam session. 25 de julho: Elis canta no Festival de Jazz de Tóquio, Japão. 30 de agosto: Começa uma série de apresentações do novo sbow Elis, essa mulher. A temporada: 30/8 a 6/9 - interior de São Paulo; 14 a 16/9 - São Paulo; 17/9 a 5/10 -interior de São Paulo; 6/10 - Londrina; 9 a 21/10 -Porto Alegre; 25 a 28/10 - Curitiba; 31/10 a 18/11 -Belo Horizonte; 22 a 25/11 - Brasília; 28 a 31/11 -Belém; 1/12 - São Luís; 2/12 - Teresina; 5 a 9/12 - Fortaleza; 11 a 16/12 - Recife; 18/12 - Aracaju; 19 a 23/12 - Salvador. A estréia nacional do show é no Ginásio Municipal de Esportes de Sorocaba, interior de São Paulo, para uma platéia de duas mil e quinhentas pessoas. Banda: César Mariano (teclados), Crispim del Cistia (guitarra e teclados), Ricardo Silveira (guitarra, violão e viola), Luís Moreno (bateria), Nenê (baixo), Chacal (percussão). Direção musical: César Mariano. Som: Rogério Costa. Realização: Trama. Promoção: Poladian Produções. No programa do show, Elis escreve: "Nessa hora e meia, a gente vai falando do jeito da gente. Os tempos da ingenuidade. Da desatenção. Do não saber de nada. Do susto que se tomou ao se conhecer quase nada. Dos tempos da quixotada. Dos restos de amadorismo. Do amadurecimento. Da raiva. Essas coisas todas que foram transformando a gente. Que hoje tem o mesmo riso, faz a mesma algazarra, gosta da cachaça, etc... Mas que melhorou o jogo de cintura, aprimorou o físico, desenvolveu o faro. Além de ter aprendido a prender a respiração quando o cheiro não é dos melhores. O concerto é isso aí. Devagarinho vai se levando. Pra, no final, a esperança ser posta na berlinda de novo. Esperança que pinta, mas já com a certeza de que a gente tem que cavar. Tem que tomar. Na marra. Rindo. Se possível".
1980Janeiro: Primeiros ensaios e seleção de elenco para o show Saudade do Brasil no Teatro Procópio Ferreira, SP. 20 de março: Estréia no Canecão, RJ, o show Saudade do Brasil, com um elenco de vinte e quatro pessoas - treze músicos e onze bailarinos, a maioria novatos - dirigido por Ademar Guerra e coreografado por Márika Gidali, com quem Elis faz aulas de dança. Há dez anos Elis não se apresenta no Canecão. Direção musical: César Mariano. Figurinos: Kalma Murtinho. Cenário e programação visual: Marcos Flaksman. "Não se trata de saudade de alguma coisa que acabou ou pessoa que morreu. É saudade do que está aí vivo, solto, e nunca deixou de existir. Se não temos acesso a isso, é por falta de uma batalha maior" (Elis, para o jornal O Globo, 20/3/80). 9 de julho: Morre Vinícius de Morais. Elis cancela seu show e participa das homenagens póstumas. Segundo a escritora Rita Ruschel, Elis passou vários dias, depois do enterro de Vinicius, dormindo no chão. "Superada essa fase, passou a dormir sobre a colcha, entre as almofadas de coração e borboleta. (. . .) Só muitos dias depois conseguiu, com esforço, entrar definitivamente entre os lençóis e dormir o sono dos justos" (em Meus tesouros da juventude- Editora Summus). É lançado o álbum duplo "Saudade do Brasil", com a íntegra do show, mas gravado em estúdio. Do álbum participam todos os músicos do show, além dos bailarinos, que no show também fazem coro. O álbum duplo é lançado em edição limitada de vinte e cinco mil exemplares, e, mais tarde, desmembrado em dois discos: "Saudade do Brasil" 1 e 2. Agosto: Depois de cinco meses de absoluto sucesso, Saudade do Brasil se despede do Canecão e do Rio de Janeiro. 4 de setembro: O show estréia em São Paulo, no Tuca Teatro da Universidade Católica. Fica um mês em cartaz. 3 de outubro: A TV Globo leva ao ar o especial Elis Regina Carvalho Costa, programa da série Grandes Nomes. Era praxe do programa que o artista focalizado levasse um convidado e cantasse com ele um ou dois números. O convidado de Elis, para esse programa, é o próprio César Mariano. Os dois, sozinhos, apresentam Rebento, de Gilberto Gil, e Modinha, de Tom Jobim e Vinícius de Morais. Novembro: Depois de já ter lançado um álbum duplo pela WEA em julho, Elis lança um novo LP. Dessa vez, a gravadora é a EMI-Odeon, com a qual, na verdade, Elis havia assinado contrato antes de assinar com a WEA. No disco, Elis recria O trem azul, de Lô Borges e Ronaldo Bastos, e Rebento, de Gilberto Gil, além de apresentar dois compositores até então não gravados: Jean e Paulo Garfunkel. É o primeiro disco de Elis na Odeon e o último que ela grava. É dedicado a Rita Lee, "Meu ídolo, minha amiga e colega de internato".
1981Janeiro: Elis vai a Los Angeles e começa os preparativos de um disco a ser gravado com Wayne Shorter, compositor e saxofonista que já havia gravado com Milton Nascimento. Esse disco nunca ficou pronto. 6 de março: Dentro da série Grandes Nomes, a TV Globo apresenta o especial de Gal Costa. Convidada especial: Elis. Ela vem de Los Angeles para atender ao convite de Gal. As duas cantam juntas Amor até o fim, de Gilberto Gil, e Estrada do sol, de Tom Jobim e Dolores Duran, música que ambas, separadamente, já haviam gravado. Elis em seu LP de 1971 ("Ela"), e Gal no disco "Gal Tropical", de 1979. 9 de julho: Elis vai para o Chile participar de um programa de televisão. Volta a São Paulo no dia 12, para continuar os ensaios de seu novo show, cuja estréia está marcada para uma nova casa de espetáculos paulista, o Canecão-Anhembi. 22 de julho: Estréia o sbow Trem azul no Canecão paulista. Direção: Fernando Faro. Cenário: Elifas Andreato. Banda: Sérgio Henriques e Paulo Esteves (teclados), Nai;an Marques (guitarra e violão), Luisão (baixo), Teo Lima (bateria), Otávio Bangla (sax tenor e soprano), Nilton Rodrigues (trumpete e flugelhorn). Arranjos: César Mariano e Natan Marques. César não participa do show: ele e Elis estão definitivamente separados depois de nove anos de casamento. O show fica um mês e meio em cartaz. 19 de setembro: Unica apresentação de Trem azul em Porto Alegre, no ginásio de esportes Gigantinho. É a última vez que Elis canta em sua terra natal. 22 a 25 de outubro: O show volta a São Paulo, no Palácio de Convenções do Anhembi. 26 de outubro: Durante um coquetel no salão do Hotel Caesar Park, RJ, Elis assina contrato com a gravadora Som Livre. "Eu estou absolutamente desesperançada com todas as gravadoras. Todas são iguais. Mas a Som Livre, pelo menos, toca no rádio, põe os discos nas lojas, tem trinta por cento da fatia de mercado, divulga na televisão e tudo" (para o Coojornal de outubro de 1981). 28 de outubro: Trem azul estréia no Teatro João Caetano, RJ, e fica cinco dias em cartaz. 11 de dezembro: O show apresenta-se no Rio Palace, RJ. 31 de dezembro: Elis faz sua última apresentação na televisão. É num especial de fim de ano da TV Record, onde canta Me deixas louca, de Armando Manzanero em versão de Paulo Coelho, e O trem azul, de Lô Borges e Ronaldo Bastos.
1982Janeiro: Elis começa a ouvir fitas para escolher o repertório de seu próximo disco, o primeiro para a gravadora Som Livre. 5 de janeiro: Dá sua última entrevista. É para o programa Jogo da Verdade, da Televisão Cultura de São Paulo -RTC. Participam do programa, como entrevistadores, Salomão Esper, Zuza Homem de Melio e Maurício Kubrusly. 19 de janeiro, terça-/eira: 11h45 - Morte, em São Paulo, por intoxicação exógena aguda. O corpo de Elis é levado para o Teatro Bandeirantes, onde é velado até o dia seguinte. Elis veste a camiseta que não pôde ser usada no show Saudade do Brasil, dois anos antes: a bandeira brasileira, com seu nome no lugar de "Ordem e Progresso". O Teatro Bandeirantes fica cheio durante a noite e a madrugada. Vários artistas no velório: Rita Lee, Roberto de Carvalho, Raul Seixas, Jair Rodrigues, Ronald Golias, Martinha, Lélia Abramo, Ronaldo Bôscoli, Luiz Carlos Mieli, César Mariano, Henfil, Tônia Carrero, Hebe Camargo, Ángela Maria, Fafá de Belém. Gilberto Gil, nos Estados Unidos, manda uma coroa de flores: "Sua voz será de todas as canções, sua alma de todos os corações". A morte é manchete em jornais: "Perdemos nossa melhor cantora" - Jornal da Tarde- SP - 20/1 "Suspeita de suicídio na morte de Elis Regina" -O Estado - SC - 20/1 "Causa da morte de Elis só vai ser confirmada amanhã" - Jornal do Brasil - RJ - 20/1 "Brasil chora morte de Elis" - A Notícia - Joinville - SC - 20/1 "Coração mata Elis" - O Estado do Paraná - 20/1 "Elis" - Folha da Tarde - RS - 20/1 "O Brasil sem Elis Regina" - Folha de S. Paulo - 20/1 Algumas agências de propaganda fazem circular mensagens a respeito de Elis em todos os jornais: "Choram Marias e Clarices. . . Chora a nossa pátria mãe gentil. Em busca de um sol maior, Elis Regina embarcou num brilhante trem azul, deixando conosco a eternidade de seu canto pelas coisas e pela gente de nossa terra. E uma imensa saudade." (Lage Propaganda - SP) "A verdade não rima, a verdade não rima, a verdade não rima. . ." (Visão Publicidade - PR - tirada da letra da música Onze fitas, de Fátima Guedes.) "Nada será como antes. Elis Regina Carvalho Costa" (Signo Comunicação - RJ) 20 de janeiro: O Departamento de Trânsito de São Paulo cria um esquema especial para o cortejo, do Teatro Bandeirantes ao cemitério do Morumbi. A pé, de carro ou moto, milhares de pessoas acompanham o carro do Corpo de Bombeiros que leva o caixão. Elis é sepultada por volta de uma hora da tarde no túmulo 2199, quadra 7, setor 5 do cemitério do Morumbi. 21 de janeiro: O delegado do 4.o Distrito Policial de São Paulo, Geraldo Branco de Camargo, divulga os resultados da autópsia e dos exames toxicológicos realizados em Elís. O laudo número 415/82 do Laboratório de Toxicologia do Instituto Médico-Legal revela "resultado positivo para cocaína e álcool etílico, este na quantidade de um grama e seiscentos miligramas de álcool etílico por litro de sangue; a quantidade de álcool etílico encontrada em nível sanguíneo revelou estar a vítima sob estado de embriaguez, e a presença de cocaína caracterizou o estado tóxico, que em somatória pode responder pelo evento letal". 22 de janeiro: A TV Cultura e a TV Globo apresentam especiais com Elis Regina. O da TV Cultura é a reapresentação de um programa feito em 1972, onde Elis fala de sua carreira e canta por duas horas. Direção de Fernando Faro. O da Globo é uma colagem das várias fases da carreira de Elis. A Sudwestsunk, emissora de televisão alemã, com sede em Baden Baden, apresenta um especial de quarenta e cinco minutos com teipes de Elis gravados quando ela esteve na Alemanha. 26 de janeiro: Missas de sétimo dia são rezadas em São Paulo, Rio de Janeiro e em várias cidades do Brasil. Em São Paulo, a missa é às dezoito horas na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Na igreja, mais de mil pessoas. entre elas Rita Lee, César Mariano, Samuel MacDowell, Walter Silva, Teotônio Vilela, Audálio Dantas, Lula, Cauby Peixoto, Hebe Camargo, Henfil, Renato Consorte, Lélia Abramo. Os textos litúrgicos são lidos por Rita Lee e Rogério, irmão de Elis. No Rio a missa é celebrada na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, com as presenças de Gal Costa, Nana Caymmi, Fafá de Belém, Zezé Motta, Betty Faria, Herminio Belio de Carvalho, entre outros. 29 de janeiro: Divulgado o resultado dos exames realizados pelo Laboratório de Toxicologia do Instituto Médico-Legal, que determinam a quantidade de cocaína que teria sido ingerida por Elis antes de morrer: "Exame complementar n.0 00415 - Exame toxicológico - Resultado: A análise quantitativa de cocaína efetuada em fígado e urina forneceram os seguintes resultados: Urina: 23 mg/100 ml (23 miligramas de cocaína por 100 mililitros de urina). Fígado: 2,4 mg/l00 g de tecido (2,4 miligramas de cocaína por cem gramas de fígado). Observações: As dosagens acima foram efetuadas em cromatografia liquidogás, utilizando-se padrão de cocaína extrapura cristalizada de procedência alemã (Merck)". O laudo é assinado por Maria E. M. da Costa Amaral, Vera Elisa Reihardt, Maria Isahel Garcia e Evilin Mansur. 30 de janeiro: No show Festa do interior no Maracanázinho, RJ, Gal Costa dedica a música Força estranha, de Caetano Veloso, a Elis, "uma estrela que luz eternamente". Essa homenagem seria repetida durante toda a temporada do show pelo país. 7 de fevereiro: Mais uma homenagem, e monumental. No estádio do Morumbi, SP, cem mil pessoas assistem ao show Canta Brasil, As atrações: Simone, Fagner, Toquinho, Chico Buarque, Milton Nascimento, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Gonzaguinha, Elba Ramalho, Paulinho da Viola, Djavan, Nara Leão, Clara Nunes e João Bosco. Sobe um enorme painel com o rosto de Elis, e todos - artistas, público, cem mil vozes - cantam O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc. 16 de fevereiro: O promotor Pedro Franco de Campos, da 1.a Vara Auxiliar do Júri, requer o arquivamento do inquérito sobre a morte de Elis ao juiz Antônio Filiardi Luiz, alegando "não haver crime a punir. Não houve o delito de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, mesmo porque não se pode falar com segurança em suicídio". 23 de fevereiro: O juiz Antônio Filiardi Luiz manda arquivar o inquérito instaurado para apurar a morte de Elis. 4 de março: Tem início o "Mês Músical Elis Regina", promovido pela Prefeitura do Município de São Paulo em seus teatros de bairro. Participam do evento: Adoniran Barbosa, Zimbo Trio, Tetê Espindola, Grupo D'Alma, Tom Zé, Premeditando o Breque, Marlui Miranda, Belchior, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho, Marina, Grupo Rumo, Renato Teixeira. A promoção vai até o dia 28. No fim de março a WEA põe no mercado o disco "Elis Regina - 13th Montreux Jazz Festival", com a gravação da apresentação de Elis em julho de 1979.0 disco não foi lançado na época porque tanto Elis como a gravadora não aprovaram a quahdade técnica da gravaçao. Destaque no LP: O encontro de Elis com Hermeto Paschoal. 1.o de maio: É registrada oficialmente a Associação Brasileira Elis em Movimento (ABEM), com sede em Sao Paulo, criada com o objetivo de preservar a arte e a memória de Elis. 8 de maio: O prefeito Tito Costa, de São Bernardo do Campo, SP, inaugura o Teatro Elis Regina na Avenida João Firmino, 900, no bairro de Assunção. A gravadora Continental relança os dois primeiros discos de Elis, gravados em 1961 e 1962. "Viva a Brotolãndia" e "Poema" são relançados em álbum duplo sob o nome de "Nasce uma Estrela". Nesta mesma época a Polygram/ Philips, gravadora de Elis por quinze anos, lança uma caixa com quatro LP5 que abrangem o período de 1965/1978 de sua carreira. Agosto: A ABEM lança o número zero do jornal Elis em Movimento, no qual são divulgados os objetivos da associação. Lançamento do álbum duplo "Trem Azul", pela Som Livre, com a gravação da última apresentação do espetáculo em São Paulo, no Palácio de Convenções do Anhembi A gravação original fora feita em uma fita cassete normal, mono, pelo irmão e técnico de som de Elis, Rogério Costa. A fita passou por uma série de processos de purificação. O som do disco não é perfeito, mas a gravação guarda o calor do show e nos dá a oportunidade de ouvir Elis cantando Flora, de Gilberto Gil, e Eurídice, de Vinícius de Morais, músicas nunca antes gravadas por ela.
198314 de janeiro: É aberta, no Centro Cultural São Paulo, a "I Semana Elis Regina", uma promoção da Rede Globo de Televisão em convênio com a Secretaria de Cultura de São Paulo. Na programação da semana: shows com Renato Teixeira, Ivan Lins, Lô Borges, Tetê Espíndola, Grupo Papa-vento, Grupo Medusa, Rosinha de Valença, Guilherme Arantes, Belchior e Zé Rodrix; exposições de fotos e desenhos; espetáculo de dança Elis - 4 estações - coreografado por Esmeralda Monteiro e apresentado pelo Ballet Art; mímica de Denise Stoklos para a música Se eu quiser falar com Deus, de Gilberto Gil, na interpretação de Elis; lançamento de cartões-postais e de poster comemorativo de autoria de Elifas Andreato. Durante a promoção, a Rede Globo inclui em sua programação vespertina e noturna pequenos flashes focalizando os eventos da semana no Centro Cultural. 19 de janeiro: Missa de primeiro aniversário na Catedral da Sé, - SP, com a presença de cinco mil pessoas. Milton Nascimento participa cantando Essa voz, música dele e de Fernando Brant em homenagem a Elis, e Canção da América, também dele e de Fernando Brant, acompanhado pela Orquestra Sinfônica de Campinas regida pelo maestro Benito Juarez. A Rede Bandeirantes de Televisão coloca em sua programação, entre oito e meia e meia-noite, vinte breaks de três a cinco minutos cada um, com vinhetas homenageando Elis, além de apresentar, às vinte horas, o especial Elis, com imagens de arquivo e depoimentos de Gilberto Gil, Milton Nascimento, Djavan e Sueli Costa. A Escola de Samba Unidos de Vila Isabel RJ, promove a "Noite dos Imortais", com um show em homenagem a Elis. São inauguradas duas exposições em São Paulo: "Elis100% Nacional", com guaches de Vicente Gil, na Galeria Paulo Figueiredo, e "Elis Paz", no Spazio Pirandelio. A gravadora EMI-Odeon lança um disco intitulado "Vento de Maio", com antigas gravações de Elis, como Tiro ao álvaro, de Adoniran Barbosa e Osvaldo Moiles, junto com Adoniran, e O que foi feito devera (de Vera), de Milton Nascimento, Fernando Brant e Márcio Borges, junto com Milton. 23 de fevereiro: A mímica Denise Stoklos estréia no SESCI Fábrica da Pompéia, SP, um recital de mímica baseado em quinze interpretações de Elis. 27 de fevereiro: É aberto o "II Mês Musical Elis Regina", uma série de shows nos teatros da prefeitura de São Paulo, com Joyce, Paulinho Boca de Cantor, Jards Macalé, Luli & Lucina. Abril: O álbum duplo "Trem Azul", com a integra do show gravado por Rogério Costa, ganha o Disco de Ouro por ter vendido mais de cento e vinte mil exemplares. Leva também o prêmio especial da Associação Paulista dos Críticos de Arte pelo tratamento dado à gravação original. 10 de novembro: O Ballet Art estréia no Teatro da Hebraica, SP, o espetáculo Elis - 4 estações, que revive as fases de sua carreira com os movimentos "A Primavera dos Sonhos", "O Verão do Amor", "A Maturidade do Outono" e "A Descrença do Inverno".
198416 de janeiro: É aberta, no Centro Cultural São Paulo, a "II Semana Elis Regina", promovida com a colaboração da Rádio e TV Gazeta, com shows de Cida Moreyra, Eduardo Gudin, Grupo Medusa, Tomzé, Rosa Maria, Regina Tatit, Célia e Grupo Papavento. Lançado, pelo Opus Video e Fonográfica - selo Elenco -, o álbum duplo "Elis Vive" - uma seleção de sucessos de Elis. 22 de janeiro: O prefeito Mário Covas e o secretário de Cultura Gianfrancesco Guarnieri inauguram, em São Paulo, a Praça Elis Regina, na altura do número 1670 da Avenida Corifeu de Azevedo Marques, bairro do Butantã. Fevereiro: A Escola de Samba União de Vila Prudente, SP, sai às ruas no carnaval com o samba-enredo Elis Regina, o som da festa eterna desta musa, de autoria de Nelson Coelho, Roberto Lindolfo e Ditão. A letra do samba:
"Na terra do churrasco e chimarão
Eu me embalei na poesia onde brotou a revelação
Elis, a luz que irradia, minha vila vem mostrar
Pra que chorar, cai comigo na folia pra despertar
Vamos pular, são só três dias
Hoje tem arrastão
Eu vou
Upa neguinho na estrada Ai que saudade nos dá
Foi a hélice de tantos valores atuais
No falso brilhante da vida, jamais foram esquecidas suas obras imortais
Era uma musa que surgia para sempre, quem diria, entre tantas marias
Trem azul, pimentinha ardida trazida do sul, Beco das Garrafas rádio circo e Tv
Elis, a festa é sua, desça e vem sambar na rua."
22 de fevereiro: Estréia no Teatro São Pedro, SP, o espetáculo Elis, com um pássaro no ombro. Com dança, música, teatro, fotografia e literatura conta-se a história do Brasil entre os anos 60 e 80, tendo Elis como fio condutor. Criado pelo grupo Baleteatro de Minas, o espetáculo já havia sido apresentado em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Depois de São Paulo, o grupo apresenta-se em Brasília. Novembro:A gravadora Som Livre lança o disco "Elis -Luz das Estrelas", feito a partir de um teipe da Rede Bandeirantes de Televisão que foi ao ar em 1976. Usou-se só a voz de Elis. Wagner Tiso, Dori Caymmi, Natan Marques; Lincoln Olivetti, Eduardo Souto e Guto Graça MeIlo fizeram novos arranjos. A intenção declarada: mostrar Elis com um "som atual". O disco tem dez faixas, seis das quais inéditas em gravações de Elis: Para Lennon & McCartney, de LÔ Borges e Fernando Brant, No dia em que eu vim me embora, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Velho arvoredo, de Hélio Delmiro e Paulo César Pinheiro, Corsário e Gol anulado, de João Bosco e Aldir Blanc. Novo LP de montagem é lançado pela Polygram, selo Fontana Special: "Nada Será Como Antes - Elis Interpreta Milton Nascimento", com dez faixas, gravadas entre 1966 e 1978. 27 de dezembro: Morre, de câncer no pulmão, Romeu Costa, pai de Elis, aos sessenta e seis anos.
198514 de janeiro: É aberta a "III Semana Elis Regina" no Centro Cultural São Paulo, com shows de Tomzé, Cláudio Lucci (compositor lançado por Elis em 1977), Luli & Lucina, Jean Garfunkel (lançado por Elis em 1980), Regina Tatit, Cida Moreyra, Belchior, Filó. No centro de São Paulo um out-door homenageia Elis com versos do poeta Ricardo Viveiros:
"A alma é um céu
O coração uma lua
Você é uma estrela
Nessa paisagem Noturna".
Lançado em Porto Alegre, pela TCHE/RBS, o livro Elis Regina, de autoria de Zeca Kiechaloski, dentro da coleção "Esses Gaúchos". 14 de maio: Lançado em São Paulo o livro de fotografias, AquarELiSta, pela Livraria Kosmos Editora. Fotografias: Célia Mansa de Ávila. Textos: Salma Tannus Muchail. 29 de julho: A prefeitura de São Paulo e a Paulistur inauguram no Parque Anhemhi o Auditório Elis, com mil e quinze lugares, para shows, teatro, congressos, seminários e palestras Show de inauguração: Destino aventureiro, de Ney Matogrosso. 28 de agosto: É inaugurada pela prefeitura de São Paulo a Escola Municipal de Educação Infantil Elis Regina, para crianças entre três e seis anos, no bairro Cidade de São Matheus, regional de Vila Prudente, SP.

A História da MPB (música popular brasileira)


História da MPB - Música Popular Brasileira Podemos dizer que a MPB surgiu ainda no período colonial brasileiro, a partir da mistura de vários estilos. Entre os séculos XVI e XVIII, misturou-se em nossa terra, as cantigas populares, os sons de origem africana, fanfarras militares, músicas religiosas e músicas eruditas européias. Também contribuíram, neste caldeirão musical, os indígenas com seus típicos cantos e sons tribais.

Nos séculos XVIII e XIX, destacavam-se nas cidades, que estavam se desenvolvendo e aumentando demograficamente, dois ritmos musicais que marcaram a história da MPB : o lundu e a modinha. O lundu, de origem africana, possuía um forte caráter sensual e uma batida rítmica dançante. Já a modinha, de origem portuguesa, trazia a melancolia e falava de amor numa batida calma e erudita.
Na segunda metade do século XIX, surge o Choro ou Chorinho, a partir da mistura do lundu, da modinha e da dança de salão européia. Em 1899, a cantora Chiquinha Gonzaga compõe a música Abre Alas, uma das mais conhecidas marchinhas carnavalescas da história.
Já no início do século XX começam a surgir as bases do que seria o samba. Dos morros e dos cortiços do Rio de Janeiro, começam a se misturar os batuques e rodas de
capoeira com os pagodes e as batidas em homenagem aos orixás. O carnaval começa a tomar forma com a participação, principalmente de mulatos e negros ex-escravos. O ano de 1917 é um marco, pois Ernesto dos Santos, o Donga, compõe o primeiro samba que se tem notícia : Pelo Telefone. Neste mesmo ano, aparece a primeira gravação de Pixinguinha, importante cantor e compositor da MPB do início do século XIX.
Com o crescimento e popularização do rádio nas décadas de 1920 e 1930, a música popular brasileira cresce ainda mais. Nesta época inicial do rádio brasileiro, destacam-se os seguintes cantores e compositores : Ary Barroso, Lamartine Babo (criador de O teu cabelo não nega), Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues e Noel Rosa. Surgem também os grandes intérpretes da música popular brasileira : Carmem Miranda, Mário Reis e Francisco Alves.
Na década de 1940 destaca-se, no cenário musical brasileiro, Luis Gonzaga, o rei do Baião. Falando do cenário da seca nordestina, Luis Gonzaga faz sucesso com músicas como, por exemplo, Asa Branca e Assum Preto.
Enquanto o baião continuava a fazer sucesso com Luis Gonzaga e com os novos sucessos de Jackson do Pandeiro e Alvarenga e Ranchinho, ganhava corpo um novo estilo musical: o samba-canção. Com um ritmo mais calmo e orquestrado, as canções falavam principalmente de amor. Destacam-se neste contexto musical : Dolores Duran, Antônio Maria, Marlene, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Angela Maria e Caubi Peixoto.
Em fins da década de 1950, surge a Bossa Nova, um estilo sofisticado e suave. Destaca-se Elizeth Cardoso, Tom Jobim e João Gilberto. A Bossa Nova leva as belezas brasileiras para o exterior, fazendo grande sucesso, principalmente nos Estados Unidos.
A televisão começou a se popularizar em meados da década de 1960, influenciando na música. Nesta época, a TV Record organizou o Festival de Música Popular Brasileira. Nestes festivais são lançados Milton Nascimento, Elis Regina, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Edu Lobo. Neste mesmo período, a TV Record lança o programa musical Jovem Guarda, onde despontam os cantores Roberto Carlos e Erasmo Carlos e a cantora Wanderléa.
Na década de 1970, vários músicos começam a fazer sucesso nos quatro cantos do país. Nara Leão grava músicas de Cartola e Nelson do Cavaquinho. Vindas da Bahia, Gal Costa e Maria Bethânia fazem sucesso nas grandes cidades. O mesmo acontece com DJavan (vindo de Alagoas), Fafá de Belém (vinda do Pará), Clara Nunes (de Minas Gerais), Belchior e Fagner ( ambos do Ceará), Alceu Valença (de Pernambuco) e Elba Ramalho (da Paraíba). No cenário do rock brasileiro destacam-se Raul Seixas e Rita Lee. No cenário funk aparecem Tim Maia e Jorge Ben Jor.
Nas décadas de 1980 e 1990 começam a fazer sucesso novos estilos musicais, que recebiam fortes influências do exterior. São as décadas do
rock, do punk e da new wave. O show Rock in Rio, do início da década de 1980, serviu para impulsionar o rock nacional.Com uma temática fortemente urbana e tratando de temas sociais, juvenis e amorosos, surgem várias bandas musicais. É deste período o grupo Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Titãs, Kid Abelha, RPM, Plebe Rude, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, Ira! e Barão Vermelho. Também fazem sucesso Cazuza, Rita Lee, Lulu Santos, Marina Lima, Lobão, Cássia Eller, Zeca Pagodinho e Raul Seixas.
A década de 1990 também é marcada pelo crescimento e sucesso da música sertaneja ou country. Neste contexto, com um forte caráter romântico, despontam no cenário musical : Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo e João Paulo e Daniel.Nesta época, no cenário rap destacam-se: Gabriel, o Pensador, O Rappa, Planet Hemp, Racionais MCs e Pavilhão 9.O século XXI começa com o sucesso de grupos de rock com temáticas voltadas para o público adolescente. São exemplos : Charlie Brown Jr, Skank, Detonautas e CPM 22.